Alimentos já têm delegados de informação médica
As empresas agro-alimentares que vendem produtos funcionais (os alimentos que, além de nutrirem, oferecem algo mais e alegam benefícios para a saúde) estão a apostar numa abordagem directa aos profissionais de saúde, à semelhança dos delegados de informação médica (DIM) dos laboratórios farmacêuticos.
Além da comunicação dirigida aos consumidores, através da publicidade ou dos rótulos das embalagens, as empresas alimentares sabem que são os profissionais de saúde quem melhor pode aconselhar os benefícios destes alimentos - que vão dos iogurtes, manteigas e margarinas aos leites fermentados. Em particular, os médicos de família.
Por isso, contactadas pelo DN, várias empresas do sector confirmam que têm apostado nesta divulgação. É o caso da Unilever Jerónimo Martins, que comercializa margarinas para controlar o colesterol. "Os médicos e outros profissionais de saúde têm actualmente uma abordagem mais abrangente, dando conselhos para uma alimentação saudável. Por isso, é importante conhecerem as características nutricionais dos nossos produtos, os quais são benéficos para a saúde, no âmbito de uma alimentação saudável", responde a empresa. Uma divulgação que é feita através de "congressos, artigos científicos e divulgação de folhetos".
Este contacto começou com a organização ou a presença, através de stands, em congressos e acções de formação, nomeadamente na área nutricional. Mas tem evoluído para encontros directos. Ana Paula Fonseca, da Danone Portugal, explica que é uma prática comum noutros países e que a empresa sentiu necessidade de a aplicar também em Portugal. "É o movimento natural. Os próprios médicos pediam mais informação, porque eram questionados pelos doentes e, por isso, acabámos a agendar visitas."
Hoje a empresa tem três pessoas, com formação em nutrição, que visitam os centros de saúde da Grande Lisboa e do Grande Porto. Mas o objectivo é alargar a equipa e chegar a outros pontos do País. A multinacional que vende probióticos - leites fermentados com bactérias benéficas - distribui aos médicos, enfermeiros e nutricionistas folhetos com as características dos produtos e estudos científicos publicados em revistas da especialidade. É que, afirma a responsável, a comunicação aos consumidores tem de ser mais directa e "os profissionais de saúde têm necessidade de receber informações mais técnicas". O que já vem sendo feito há várias décadas por outra área da indústria alimentar: os produtos para as crianças, como leites em pó ou papas, como confirma também a Nestlé.
Luís Pisco, médico de família e coordenador da reforma dos cuidados primários, refere não ter conhecimento oficial desta prática. Mas diz que não o surpreende. "Até existem delegados de informação para falar de termas." Mas, na opinião deste clínico, este contacto é "muito útil". "Os doentes fazem-nos perguntas e é importante sabermos. Se determinados alimentos dizem que têm benefícios para a saúde, os médicos têm de estar informados sobre isso. Até porque é uma área que vai crescer nos próximos anos", defende.
Contudo, Luís Pisco refere que, enquanto nos medicamentos existem dois tipos de veículos de informação, nos alimentos há apenas um. Nos medicamentos, além da informação fornecida pelos próprios laboratórios farmacêuticos, a autoridade nacional, o Infarmed, faz também divulgação das suas características dos remédios. Nos alimentos, apenas existem os dados dos fabricantes.|