Algumas considerações sobre as relações entre Portugal e Israel
Quando estas palavras forem publicadas estarei a caminho do meu país, Israel, e terei dado por terminada uma missão fascinante e desafiante que durou quase quatro anos, em Portugal.
Termino-a de coração cheio e (sem cliché) com o sentimento de dever cumprido. Trouxemos a relação entre os dois países ao seu ponto mais alto desde o estabelecimento de relações diplomáticas.
Foram estes os ecos que me chegaram de Jerusalém.
Foram estes os ecos que me chegaram nas reuniões de despedida que tive, recentemente, com as mais altas instâncias do Estado português, nomeadamente com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Os canais de comunicação entre os presidentes, os primeiros-ministros e os ministros dos Negócios Estrangeiros estão abertos e ativos, muito mais do que alguma vez estiveram. O diálogo é franco e aberto, ainda que as posições, às vezes, divirjam.
O ministro Augusto Santos Silva goza de muita estima, também por parte dos decisores políticos israelitas. Tal foi muito visível durante a sua última visita a Israel, em dezembro de 2020, às vésperas da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e, mais recentemente, no diálogo com o seu atual homólogo israelita, Yair Lapid.
A embaixada que chefiei, com uma equipa luso-israelita devotada e com parceiros de inestimável valor encontrados no seio da sociedade civil portuguesa excederam-se ao nível do people to people (de povo para povo). Não podendo aqui mencionar todos os eventos e atividades seleciono uns quantos:
- O concerto, no verão de 2018, no Casino Estoril, por ocasião do 70.º aniversário da Independência do Estado de Israel, em colaboração com a Câmara Municipal de Cascais, através do qual conseguimos angariar 70 mil euros para ajudar na recuperação de Pampilhosa da Serra, dramaticamente atingida pelos incêndios do ano precedente.
- A exposição de arte contemporânea No Place Like Home, do Israel Museum, em colaboração com uma equipa extraordinária do Museu Coleção Berardo e considerada uma das mais bem-sucedidas de 2018, em Portugal;.
- A exposição sobre a arquitetura da cidade branca de Telavive (património mundial da UNESCO), que coincidiu com o centenário da fundação do movimento Bauhaus, trazida a público no MAAT, em Lisboa, e na Casa da Arquitetura de Matosinhos.;
- As grandemente aclamadas (e sempre esgotadas) atuações da companhia de dança contemporânea israelita Batsheva, no CCB.
- A casa cheia no Tivoli, em Lisboa, com o concerto da diva israelita da música do mundo Noa. Com raízes familiares no Iémen, Noa é também uma ativista da paz com os nossos vizinhos. A visita a Portugal da minha colega Belaynesh Zevadia, a primeira judia de origem etíope a ser nomeada como embaixadora de Israel no seu país nativo. (Tanto Noa como Belaynesh são a expressão, ainda que ínfima, da diversidade de Israel e do sonho israelita.)
- A comovente cerimónia privada, organizada em conjunto com a PSP, para finalmente homenagear o agente Ildefonso Teixeira Pereira, assassinado por terroristas palestinianos à porta da embaixada em Lisboa, em novembro de 1979, enquanto segurança do então embaixador israelita em Portugal. Resgatámos, assim, o seu nome do esquecimento e pudemos dar à viúva e às filhas um há muito merecido abraço.
E nem o coronavírus conseguiu parar as nossas atividades, muito pelo contrário. Conseguimos apoiar algumas associações de cariz humanitário que estavam a passar por sérias dificuldades devido à pandemia. Juntamente com a Shamir Optical oferecemos testes à visão e óculos aos residentes mais necessitados de muitos lares de idosos.
Fizemos isto (e bastante mais) porque acreditamos que é assim que uma embaixada deve trabalhar. Vis-à-vis instâncias políticas, económicas e culturais mas sempre com grande enfoque no serviço e no envolvimento com a comunidade.
Houve, ainda assim, sombras. Algumas até aumentaram: expressões de antissemitismo nos media sociais para as quais muito tem contribuído a esquerda radical ao apelar ao boicote a Israel e ao deslegitimizar o seu direito básico a defender os cidadãos contra ataques terroristas.
Para minha grande satisfação o sucesso destas investidas foi marginal. Ainda que o não fosse, Israel iria (e irá) continuar a proteger os seus cidadãos ao mesmo tempo que vai expandindo a paz com os seus vizinhos árabes - aqueles que estão dispostos a reconhecer o direito de Israel a existir -, em paz e segurança.
Face a este sempre preocupante agravamento do que é a expressão antissemita, creio ser importante mencionar os milhares de jovens visitantes que fazem fila para visitar o Museu do Holocausto do Porto, recentemente inaugurado pela mão da Comunidade Israelita da Cidade Invicta.
Concluindo, no ano passado, um grupo heterogéneo de cidadãos portugueses, de todas as áreas profissionais e tendências políticas, fundou a ALPI
- Associação Lusa Portugueses por Israel. O seu denominador comum é a profunda convicção do direito de Israel a existir em segurança como qualquer outro Estado da família das nações. O seu desejo é o de criar e manter as mais frutíferas relações entre Portugal e Israel. Em todas as áreas.
Centenas de portugueses provenientes de todo o território nacional são já membros da ALPI e isto apenas poucos meses após a sua fundação. Que grande satisfação me dá ver aumentar o número de ativistas portugueses que dão tal importância à relação entre os nossos dois países.
Vida longa à amizade entre os nossos povos!
Venham visitar Israel. Eu, pela minha parte, vou regressar e visitar (muito) demoradamente Portugal.
Até breve!
Embaixador de Israel em Portugal