Alguém como Eu: a ordem para sorrir de Leonel Vieira
Depois das comédias populares O Pátio das Cantigas e O Leão da Estrela, Leonel Vieira atira-se para um género mais específico, a comédia romântica. Uma aposta feita a meias com a produtora brasileira Gullane, responsável pela produção de alguns dos maiores blockbusters do país irmão e pela coprodução de Tabu, de Miguel Gomes. O objetivo é Alguém como Eu funcionar para o grande público dos dois países - primeiro estreia agora em Portugal e, muito em breve, em 300 salas do outro lado do Atlântico.
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E é também uma história de trocas culturais entre os dois países, as nossas diferenças e semelhanças com o Brasil. O romance passa-se em Lisboa, onde Helena (Paolla Oliveira), uma jovem solteira carioca, se apaixona por um jovem advogado lisboeta, Alexandre (Ricardo Pereira). No começo, o romance é fogoso e entre os dois instala-se uma química perfeita, mas, aos poucos, começa a acontecer uma certa rotina. Helena começa a ficar incomodada com alguns comportamentos de macho latino lusitano e reza a Deus para que o seu amor fique mais parecido com ela. De repente, cada vez que Helena olha para Alexandre vê uma mulher sedutora. Uma alucinação permanente que vai gerar os maiores equívocos.
Para Leonel Vieira, esta foi a oportunidade de fazer uma coprodução em moldes completamente diferentes. Segundo o produtor e realizador, as outras coproduções entre o Brasil e Portugal não resultavam pois não estavam equiparadas: "Esta é a primeira vez onde o financiamento é verdadeiramente o mesmo de parte a parte e isso é uma vantagem! Quer a minha Stopline, quer a Gullane estão no mesmo pé." Mas quando lhe perguntamos se o filme é mais português ou brasileiro, dá o braço a torcer: "olhando-o agora na perspetiva portuguesa, sinto que poderia tê-lo financiado sozinho. Agora percebo que este filme poderia ser um projeto meu português, embora no Brasil eles sentem-no como um filme deles. O filme do Porchat, Meu Passado me Condena 2 - O Filme, também tinha um brasileiro em Portugal, era o mesmo pressuposto e até tinha igualmente atores portugueses. Alguém como Eu tem a identidade nacional de ambos os países."
Se os brasileiros ficarem perdidos na tradução do humor português (vemos José Pedro Vasconcelos a dizer a palavra "queca"), é uma outra questão. Vieira apostou numa ideia de Lisboa sofisticada, quase de luxo. Há muitos planos (talvez em demasia) de drones sobre lugares turísticos da capital e a maneira como Óbidos é filmada vai fazer que o público brasileiro fique com vontade de experimentar viagens turísticas ao nosso país. Entre muitas marcas que aparecem em product placement, o Turismo de Lisboa foi um dos apoios - esta produção não foi financiada com o dinheiro dos concursos do ICA.
"Sinto que os brasileiros estão a mudar em relação ao modo como percecionam a nossa cultura. Não é por acaso que Ricardo Pereira teve muito sucesso recentemente na Globo a fazer uma personagem portuguesa em horário nobre! Antes havia um medo e apatia em fazermos trabalhos que pudessem ser vistos e compreendidos no Brasil. Espero que este nosso trabalho corra bem lá para que possa haver uma continuação desta tendência de criarmos um mercado comum, semelhante àquele que os argentinos e espanhóis têm. Filmes que eu produzi como Estrada 47 e mesmo A Selva já eram uma tentativa, embora os seus temas não interessassem aos distribuidores. Ao contrário, Alguém como Eu convenceu os maiores distribuidores de ambos os países!"
Importante também aqui a presença de Ricardo Pereira, rosto que "vende" nos dois territórios, e Paolla Oliveira, neste momento a maior estrela da sua geração nas telenovelas da todo-poderosa Globo. Leonel Vieira acredita que este filme faça sorrir brasileiros e portugueses, muito embora tenha consciência de que os números de espectadores possam ficar longe dos mais de 600 mil espectadores de O Pátio das Cantigas.
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