Algarve tem mais de 500 pessoas a viver nas ruas ou em situação demasiado precária

A pandemia e a época baixa do turismo no Algarve podem agravar a situação.
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O presidente do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS) estimou esta segunda-feira em mais de 500 o número de pessoas a viver nas ruas ou em situação "demasiado precária" no Algarve, havendo mais 70 em alojamentos de emergência.

"Este ano, o número de pessoas sem-abrigo no distrito de Faro deverá ser semelhante ao de 2020, período em que foram sinalizados 604 casos", disse à Lusa Fábio Simão, presidente do MAPS, organização que presta vários serviços à comunidade no âmbito da emergência social.

Do total de casos sinalizados no ano passado, "mais de 500 pessoas estavam a viver nas ruas ou em situação demasiado precária e só cerca de 70 é que estavam em alojamentos de emergência", especificou aquele responsável.

De acordo com Fábio Simão, existem duas situações de sem-abrigo: "os que estão em alojamentos de emergência e que são considerados sem casa, mas que têm um teto, e os sem teto, ou seja, a viver nas ruas ou em situações demasiado precárias".

O responsável adiantou que, em 2020, o MAPS "aumentou em 70 o número de camas nos alojamentos de emergência no distrito", através de apartamentos partilhados nos concelhos de Lagos, Portimão, Faro, Loulé, Tavira e Vila Real de Santo António.

"O Algarve é a região do país com o maior número de integrações em apartamentos partilhados, fruto de um trabalho feito em rede e articulado com várias entidades", apontou.

Fábio Simão perspetivou que os efeitos da pandemia da covid-19 e a época baixa do turismo no Algarve possam "fazer aumentar o número" de pessoas a necessitar de ajuda.

Segundo o presidente do MAPS, nos primeiros seis meses do ano, registaram-se cerca de 70 novas sinalizações de pessoas a necessitarem de casa, só no concelho de Faro.

"Temos uma crise mascarada, uma crise que existe e que se tem agravado. Algumas pessoas que tínhamos apoiado no primeiro estado de emergência e que deixaram de precisar de ajuda, voltaram a bater-nos à porta a pedir apoio alimentar, além de novos casos que têm surgido", avançou.

Fábio Simão adiantou que, por norma, no Algarve existiam períodos em que os pedidos de ajuda diminuíam, "mas, este ano, não se sentiu essa oscilação".

"É isto que nos faz perceber que efetivamente este ano os números são para manter, daí ter a perceção que vamos superar os 600 casos de pessoas em situação de sem-abrigo", sublinhou.

O responsável adiantou que só no mês de janeiro é que os números reais dos sem-abrigo no Algarve este ano serão apurados, "para perceber se efetivamente houve ou não um aumento em relação a 2020".

O número de pessoas em situação de sem-abrigo tem vindo a aumentar em Faro, com a maioria a pernoitar em locais precários como carros ou edifícios abandonadas, um cenário agravado pela pandemia de covid-19, indicam dados oficiais.

A coordenadora do Núcleo de Planeamento e Intervenção Sem-abrigo (NIPSA) de Faro, Vanda Balaia, referiu à Lusa que a pandemia "contribuiu para o aumento significativo" de pessoas nesta situação, nomeadamente devido a "perda do emprego e diminuição dos rendimentos de uma franja da população que ficou incapacitada de fazer face às despesas da habitação".

Segundo a responsável, este ano, até meados de dezembro, foram abertos em Faro um total de 82 novos processos sociais de pessoas sem-abrigo, quando durante o ano de 2020 tinham sido abertos 30 novos processos.

Contudo, de acordo com Vanda Balaia, os 82 novos processos no concelho não representam "necessariamente o número de pessoas em situação de sem-abrigo, mas o número de pessoas que tiveram uma intervenção por parte do NPISA Faro ao longo do ano de 2021", até porque os processos "se mantêm na situação de 'em acompanhamento' por um período de 12 meses".

As pessoas identificadas em Faro nesta situação são maioritariamente homens, solteiros, com baixa escolaridade, entre os 30 e os 50 anos e de nacionalidade portuguesa. Mas, nos últimos cinco anos, "tem-se assistido a um aumento significativo de várias nacionalidades da União Europeia", sublinhou.

Em Faro, no total, encontram-se em acompanhamento e sinalizados por este núcleo 130 pessoas em situação de sem-abrigo, a maioria das quais (96) sem teto, a pernoitar em local precário como vãos de escada, entradas de prédios, carros, fábricas, prédios ou casas abandonadas.

No entanto, estas "são situações voláteis, não representando necessariamente o número de pessoas que se encontram neste momento nesta situação", notou a coordenadora, sublinhando a distinção entre pessoas que vivem sem teto e sem casa.

As pessoas que vivem sem teto pernoitam no espaço público, estão alojadas em abrigos de emergência ou têm paradeiro em local precário, enquanto as pessoas sem casa se encontram em alojamento temporário destinado para o efeito.

Relativamente às pessoas sem teto, estão atualmente sinalizadas em Faro 15 situações de pernoita em espaço público, o que engloba desde jardins a estações de camionagem, paragens de autocarro, estacionamentos, passeios, viadutos, pontes ou outros.

Além das 96 pessoas que vivem em local precário, há nove situações de pessoas que vivem em abrigos de emergência, ou seja, "qualquer equipamento que acolha, de imediato, gratuitamente e por períodos de curta duração, pessoas que não tenham acesso a outro local de pernoita".

No que toca às pessoas sem casa, existem atualmente 10 situações em Faro de pessoas a pernoitar em alojamento temporário destinado para o efeito, nomeadamente através de uma resposta social da Segurança Social ou outras de natureza similar, designada por Centro de Alojamento Temporário.

De acordo com Vanda Balaia, a resposta em termos de alojamento para pessoas em situação de sem-abrigo "não é suficiente para contemplar todos os casos sinalizados elegíveis para alojamento", embora tenham já sido aprovados, no concelho de Faro, vários projetos nesse sentido.

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