Alexander suicidou-se. Namorada foi acusada por "abuso físico, verbal e psicológico"
As autoridades do condado de Suffolk (estado de Massachusetts), nos Estados Unidos, estão a acusar uma jovem de 21 anos de homicídio involuntário, por alegadamente ter contribuído, ou mesmo incitado, ao suicídio do noivo.
A história vem contada no El País . Alexander Urtula suicidou-se a 20 de maio último, cerca de duas horas antes de se formar como biólogo do Boston College. Tinha 22 anos e começara a trabalhar com investigador num hospital em Nova Iorque. Nessa altura voltou a Boston com os pais para a cerimónia de graduação, mas nesse mesmo dia subiu ao topo de um edifício de dez andares e atirou-se.
As autoridades afirmam agora que Alexander Urtula se suicidou depois de meses de "abuso físico, verbal e psicológico" por parte da noiva, Inyoung You. De acordo com Rachael Rollins, promotora responsável pela investigação, nos meses que antecederam o suicídio, a namorada disse-lhe "não centenas, mas milhares de vezes que se suicide ou que morra".
Segundo as autoridades, os dois jovens trocaram mais de 75 mil mensagens nos últimos meses, sendo certo que cerca de 47 mil mensagens da jovem sul-coreana de 21 anos, estudante no mesmo colégio, revelam "um ataque completo e absoluto contra a vontade e a consciência" do namorado.
"Muitas mensagens mostram claramente a dinâmica de poder que havia na relação. Inyoung You usou técnicas de manipulação e ameaça de automutilação sabendo que tinha um controlo total sobre Urtula, tanto mental como emocionalmente", disse Rachael Rollins em conferência de imprensa, acrescentando que o abuso tornou-se "mais frequente, mais poderoso e mais degradante nos dias e nas horas prévias à morte" do jovem. Uma dinâmica que foi confirmada pelos investigadores no diário de Urtula e também junto de colegas e familiares.
Inyoung You voltou, entretanto, para a Coreia do Sul, mas as autoridades norte-americanas estão já em contacto com a advogada da acusada, esperando agora que ela regresse aos Estados Unidos de livre vontade. Mas se isso não acontecer, sublinhou Rachael Rollins, serão acionados os mecanismos para que seja julgada, nomeadamente com um pedido de extradição ou um pedido à Interpol para que emita um mandado de detenção internacional.
Este caso surge depois do polémico julgamento e da condenação de Michele Carter, uma jovem norte-americana que foi condenada em 2017 a 30 meses de prisão (15 de prisão efetiva), por homicídio involuntário. O caso reporta-se a 2014, ano em que Carter, então com 17 anos, enviou centenas de mensagens a Conrad Roy, dizendo-lhe para pôr fim à vida. O jovem chegou a ligar-lhe com dúvidas, enquanto bombeava monóxido de carbono para dentro de um carro com uma bomba de água, mas Carter não o demoveu, e depois de desligar a chamada ainda lhe mandou uma mensagem a dizer: "Volta a meter-te no carro. Faz isso e ponto." Não avisou a família nem as autoridades.
Atualmente, o Estado de Massachusetts discute a chamada "lei de Conrad", que estabelece uma pena de até cinco anos de prisão para quem coagir ou incitar intencionalmente o suicídio de terceiros, a quem participe no ato ou proporcione os meios para o fazer.