Alerta da ONU: Apps de sexo casual aumentam risco de VIH
O uso cada vez maior de aplicações de telemóvel para encontros casuais está a levar a mais situações de sexo desprotegido, que podem resultar no aumento de casos de VIH/sida. O alerta é feito pelas Nações Unidas e tem em conta o último relatório da ONU e Unicef - publicado ontem, na véspera do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que hoje se assinala -, que mostra que o número de infeções de VIH/ /sida entre os adolescentes na região Ásia-Pacífico está a crescer, sobretudo entre jovens rapazes que têm sexo com homens.
Estima-se que no ano passado tenham ocorrido naquela zona 50 mil novas infeções em adolescentes entre os 15 e os 19 anos, o que corresponde a 15% das novas infeções. E há um fenómeno que está a elevar o risco: as apps de telemóvel para encontros homossexuais. "A explosão do uso de apps de encontros homossexuais aumentou a possibilidade de sexo casual como nunca. Os utilizadores podem localizar-se e com um simples clique combinar de imediato um encontro sexual."
Nest, 19 anos, vive em Banguecoque (capital da Tailândia), e é um dos muitos exemplos. Usa as apps Grindr e Growlr para conhecer e marcar encontros com outros jovens gay. "Não gosto de ter sexo no primeiro encontro. Prefiro conhecer melhor a pessoa. Mas tenho amigos que vão a estes grupos apenas para conseguir sexo. Se for ao Growlr, durante o dia encontro 50 homens disponíveis. À noite são 100", disse o jovem à equipa da Inter-Agency Task Team on Young Key Populations. Encontros que resultam em sexo desprotegido.
"Jovens gay disseram-nos, de forma consistente, que usam as apps de telemóvel para encontros sexuais e estão a ter mais sexo casual. Sabemos que este tipo de comportamento de risco aumenta a propagação do VIH. Estamos convencidos de que há uma ligação e temos de trabalhar mais com os fornecedores de aplicativos móveis para compartilhar informações sobre VIH e proteger a saúde dos adolescentes", disse Wing-Sie Cheng, VIH/sida consultor da Unicef no Leste da Ásia e Pacífico, citado pelo Guardian.
Os dados constam do relatório, publicado ontem, "Adolescents: Under the Radar in the Asia-Pacific AIDS Response", publicado pela Asia-Pacific Inter-Agency Task Team on Young Key Populations, organismo criado em 2009 para apoiar as agências das Nações Unidas e associações da sociedade civil que têm como objetivo a prevenção da sida entre a população jovem. Fazem parte deste grupo a Unicef, ONUSIDA, Aliança Internacional VIH/sida, entre outros.
Apostar na prevenção
O documento, que o DN consultou, refere que há cerca de 220 mil adolescentes a viver com VIH naquela região do mundo. As grandes cidades como Banguecoque, Jacarta e Hanói concentram mais casos. É entre a população de homens que têm sexo com homens que se regista o maior aumento de infeções, espelho do acréscimo de comportamentos de risco como sexo desprotegido e vários parceiros sexuais.
O controlo da infeção entre os mais novos é um trabalho que passa também pelos governos, pela aposta de políticas de prevenção, educação sexual nas escolas, acesso a centros de tratamento dedicados a adolescentes e a testes que lhes permitam saber se estão ou não infetados. "Estamos a trabalhar com os governos da região Ásia-Pacífico para garantir que estão conscientes das sua obrigações de proteger a saúde dos adolescentes, o que inclui garantir acesso a testes e a tratamentos", afirmou Daniel Toole, diretor regional da Unicef leste Ásia e Pacífico.