Álbuns chineses

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Em 2020, em plena pandemia, estava a trabalhar na atualização da Exposição O Encontro das Línguas - tradutores e traduções de escritores portugueses para chinês, cuja primeira versão foi feita em 2014, para acompanhar a visita do Presidente da República a Pequim. Ajudei a Prof.ª Ana Paula Laborinho, então Presidente do Instituto Camões (IC), na conceção e execução da Exposição. De 2014 a 2020, com o desenvolvimento de cooperação entre a China e Portugal na área da cultura, muito mais obras da literatura portuguesa foram traduzidas para chinês e o IC entendeu que a Exposição devia ser atualizada. Fui assim convidada para cumprir a tarefa.

Com a pandemia, toda a pesquisa era feita online, com ajuda de Sang Dapeng (em Macau) e Xu Xiaoyan (em Xangai). Para grande espanto meu, descobri que "Quando o mundo entrou na segunda década deste século, a literatura infantil, ou melhor, os álbuns ilustrados destinados ao público infantil começaram a ser populares na China. Aproveitando a maré, os trabalhos portugueses entraram em força no mercado chinês tornando-se célebres, junto do público chinês, os nomes de Isabel Minhós Martins e de Catarina Sobral, entre outros, graças ao trabalho bem sucedido dos tradutores chineses", citando a Exposição. Foi apurado um total de 32 álbuns publicados até aos finais de 2020, dos quais O meu avô e A Manta tinham duas versões, uma na China Continental e a outra em Taiwan.

Em 2021, Zhang Jingwen, mestranda da UA, concluiu a tese Tradução de Português para Chinês dos Livros Infantis Ilustrados, com a minha orientação. A tese inclui uma abordagem sobre os livrinhos ilustrados tradicionais que a China tem desde sempre para o público infantil, os quais são muito diferentes dos álbuns infantis modernos, em termos de formato (normalmente de 14,4cm X 10,5cm), apresentação de histórias (maioritariamente desenhos em preto e branco com legendas grandes em caracteres) e até designação, "lianhuanhua" ou "xiaorenshu" em chinês, literalmente "desenhos em sequência" ou "livros para crianças", em contraste dos álbuns, "ertong huiben" em chinês. Eram adorados por todos, crianças e adultos, e guardo até agora uma caixa desses livrinhos que o meu filho leu durante a infância. Mas começaram a entrar em decadência a partir dos meados dos anos 80, por causa das novas tecnologias, além de não resistirem aos álbuns infantis, nacionais e estrangeiros, com desenhos de cores vivas, legendas simples e conteúdos adaptados ao gosto das crianças.

Conforme os dados recentes, a China publica anualmente cerca de 40 mil obras para o público infantil, dos quais, os álbuns ocupam cerca de 10%, entre 3 a 4 mil. Em 2023, o mercado de álbuns infantis ultrapassou o valor de 9,23 mil milhões de CNY. A percentagem de álbuns da autoria chinesa cresce de ano para ano e dos 347 álbuns recomendados pelo Ministério da Educação em 2021, 78% são obras chinesas.

Finalmente, chegaram a Portugal os álbuns infantis chineses. São 173 livros para a Exposição Itinerante de Álbuns Infantis Chineses 2023 Portugal, numa organização conjunta da Embaixada da China e do Centro de Educação e Cooperação em Línguas do Ministério da Educação da China. A nossa Associação foi convidada para a execução do evento de apresentação da Exposição, pelo que tenho acesso privilegiado aos álbuns.

Abertas as caixas dos livros, chamam-me logo atenção os seus formatos e tamanhos diferentes, grandes e pequenos, espessos e finos.

Abertos os livros, fascinam-me os seus desenhos lindíssimos, maioritariamente de cores vivas, que incluem desenhos a pincel, a lápis, cartoon, aquarela, ... até pinturas dobráveis e em relevo.

Iniciada a leitura, encantam-me as histórias, de temas muito diversos, sobre personagens famosas (e.g. Mulan), língua e cultura chinesa (e.g. Escrita em carapaças de tartarugas e ossos de animais, As mão que sabem falar, Avó de 9999 anos, Registo de acontecimentos), animais personificados (e.g. A família Panda e A tartaruga que quer ver o mar), lendas, fábulas, e muito mais.

O evento terá lugar no dia 10, às 16h, na sede da nossa Associação, na Rua Sarmento de Beires, 1, Areeiro. O programa incluirá a leitura parcial ou total de álbuns em chinês com a sua tradução para português e atuação artística, por parte dos alunos de chinês, maioritariamente portugueses. E um álbum português também será lido em duas línguas. Mas qual? Será decifrado na altura.
Sejam bem-vindos ao evento!


Professora aposentada da Universidade de Aveiro e Presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa

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