Albufeira que dá de beber ao Porto sujeita a regras

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A albufeira de Crestuma-Lever, no rio Douro, vai finalmente ter um plano de ordenamento. O documento, cuja consulta pública ontem terminou, vai, a curto prazo, estabelecer regras claras de utilização para a fonte de abastecimento de água de quase dois milhões de pessoas residente s na Área Metropolitana do Porto. É colocado um ponto final num vazio que tudo permitia.

A elevada poluição é o grande problema da massa de água, que abastece 1,7 milhões de pessoas. No diagnóstico, que conduziu à elaboração do plano de ordenamento, ressalta a "elevada contaminação microbiológica" sobretudo a jusante, associada a "uma monitorização deficiente da qualidade da água", acentuada a montante. Para além disso, alguns locais apresentam elevados níveis de mercúrio, arsénio, cianetos e fenóis. A agravar ainda mais a situação está a "ausência de controlo de efluentes rejeitados na albufeira em todos os municípios com excepção de Vila Nova de Gaia", a que não é alheio o "baixo nível de cobertura de tratamento de águas residuais".

A isto junta-se "a proliferação de unidades industriais sem controlo dos sistemas de tratamento e rejeição de efluentes", assim como numerosos pequenos sistemas de tratamento de águas residuais com dificuldades económicas no seu controlo", o que a médio prazo, se revelará "insustentável". Curiosamente, o Rio Tâmega, que há pouco tempo foi equacionado como alternativa ao Douro para abastecimento ao Grande Porto, é apontado como responsável pela "introdução na albufeira de água com muito má qualidade do ponto de vista microbiológico".

Um cenário negro cuja alteração depende exclusivamente da eliminação das fontes de poluição. No entanto, os responsáveis pela elaboração do Plano de Ordenamento da Albufeira de Crestuma-Lever (POACL) prevêem um "aumento da contaminação por óleos e matéria orgânica com o aumento de utilização da albufeira por barcos de recreio, turismo e graneleiros". Em relação a estes, o documento põe em causa a utilização do rio como canal de transporte de um único produto - o granito - quando o acesso rodoviário aos portos de Leixões e Aveiro é rápido e eficiente

O POACL, que restringe a construção nas margens da albufeira e limita a navegação a barcos a remo, à vela e de propulsão eléctrica, não evita o atravessamento da massa de água pelos inúmeros barcos de turismo que demandam, a partir do Porto, o Douro Vinhateiro. O estudo de avaliação dos recursos hídricos não teve, contudo, em conta o impacto do lançamento de águas residuais por parte desses barcos.

Com vista a melhorar a qualidade da água de uma albufeira cujo principal uso é fornecer água a cerca de 10 % da população portuguesa, a grande fatia do investimento previsto - 67% de um total de 33 milhões de euros -destina-se ao reforço dos sistemas de recolha e tratamento de águas residuais. Uma fatia importante das verbas será canalizada para a monitorização. Um trabalho que avaliará, entre vários parâmetros, as espécies presentes. A lontra será o alvo prioritário, pois reage a qualquer alteração do meio, o que faz dela "um bom indicador biológico".

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