Alarmista, futurista ou realista?

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Há décadas que José Tribolet, professor e especialista em cibersegurança, alerta para a perigosidade dos ataques informáticos. Os seus avisos, há uns anos, eram ouvidos como alarmistas ou futuristas. Mas neste ano a realidade provou (ou recomprovou) como "estamos em guerra", nas palavras do professor, de que forma a sociedade está dependente das tecnologias e como a sofisticação, a globalização e as redes nos podem tornar ora potências fortes ora vulneráveis. E, afinal, José Tribolet era apenas um realista a quem nem todos queriam dar ouvidos, como se com o vento se fizesse parar a ameaça.

Hoje os ciberataques são cada vez mais requintados e cirúrgicos, atingindo estruturas vitais. Em setembro último, numa entrevista ao DN e à TSF, o contra-almirante António Gameiro Marques alertava: "Os ataques cibernéticos não só aumentaram em número como se sofisticaram." O diretor-geral do Gabinete Nacional de Segurança e do Centro Nacional de Segurança confirmava e avisava que "a ameaça que decorre da utilização do digital tem vindo a crescer porque os nossos comportamentos dependem cada vez mais do digital. Portanto, se estamos expostos, o risco é maior". E essa ameaça "tem duas declinações: uma, que é aquela óbvia, nós podemos ficar sem os nossos dados, a nossa privacidade pode ser comprometida e por aí fora. Mas há outra mais estruturante, mais profunda, que tem que ver com a forma como o digital modifica a maneira como percecionamos a realidade e a maneira como nos comportamos enquanto cidadãos de uma sociedade". Se o digital ou simplesmente as redes sociais tem a capacidade de nos transportar para outra realidade, em que empresas e cidadãos se sintam invencíveis, então o alarme está mais do que justificado.

O contra-almirante deixava outro aviso importante: "O que cada vez mais se vê são ameaças de natureza híbrida, ou seja, são aquelas que nascem no mundo digital, mas depois têm efeitos no mundo físico." Nos dias que correm "os incidentes não são verticais, ou seja, não são só no ciberespaço. Começam no ciberespaço mas depois propagam-se para o mundo físico premeditadamente". Foi o que aconteceu nesta semana, e que ainda está a ter consequências, ao ser atacada a Vodafone Portugal. Como afirmou o CEO da operadora, Mário Vaz, o nome certo para este tipo de crime é "ato terrorista e criminoso".

Perante uma ameaça como esta é vital prevenir, mitigar e ter, de uma vez por todas, planos de emergência para lidar com este género de apagão. Aos órgãos de comunicação social cabe também um papel importante de serviço público e que passa por publicar os factos, mas também alertar para a prevenção. É preciso impedir a invasão de intrusos mal-intencionados nos nossos computadores, telefones e outros gadgets para que possamos continuar a sentir-nos livres e a viver em plena democracia. O ciberataque "terrorista" à Vodafone Portugal deixou milhões sem voz e sem rede, mas não deixaremos que deixe os media sem o seu papel: informar, sempre.

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