Alain Resnais: Um grande experimentador francês
Em 1961, ao arrebatar o Leão de Ouro, em Veneza, com O Último Ano em Marienbad, o francês Alain Resnais (na altura, com 39 anos) surgia como um símbolo exemplar da Nova Vaga francesa. Com um importante lote de documentários rodados nas décadas de 40 e 50, Resnais era já um "veterano" face a autores emergentes como Godard, Truf- faut ou Chabrol: de França vinha um vento novo, capaz de transfigurar a paisagem criativa do cinema muito para além das fronteiras internas.
Marienbad, precisamente, foi um filme marcante. Recusando os modelos clássicos de caracterização psicológica e organização narrativa, Resnais ajudava a abrir a imensa paisagem de um cinema novo (genuinamente novo), empenhado em integrar formas de experimentação cúmplices de outras artes, em particular a literatura.
Para muitos espectadores, o nome de Resnais só viria a adquirir alguma evidência a partir de meados dos anos 70, quando assina uma série de filmes com grandes estrelas do cinema francês. O primeiro desses títulos é Stavisky (1974), com Jean-Paul Belmondo, evocando um escândalo politico dos anos 30 a partir de um argumento de Jorge Semprún, seguindo-se Providence (1977) e O Meu Tio da América (1980).
A partir daí, Resnais foi consolidando um espaço de criatividade que, mesmo mantendo o seu enraizamento na grande indústria, nunca abandonou um notável sentido experimental. Disso são exemplos os cinco filmes que dirigiu ao longo da década de 80: O Meu Tio da América (1980), A Vida É Um Romance (1983), Amor Eterno (1984), Mélo (1986) e I Want to Gome Home (1989). Através deles, Resnais foi também reunindo um grupo de actores fiéis que, de alguma maneira, se tornaram um dos principais emblemas do seu cinema - entre eles, destacam-se Sabine Azéma, Pierre Arditi e André Dussollier.
A partir do fabuloso díptico Smoking/ No Smoking (1993), baseado numa peça de Alan Ayck- bourn, a sua obra foi sendo marcada por um desencanto romântico que não é estranho a um delicado humor e também, por vezes, à recuperação de um certo gosto musical: Pas Sur la Bouche (2003) é mesmo a festiva adaptação de uma opereta francesa de 1925. A mais recente realização de Resnais, As Ervas Daninhas (2009), retoma um modelo clássico de melodrama para o reinventar numa delirante coexistência do real e do imaginário.