Akcentt: uma viagem gastronómica pela cozinha ucraniana

Daryna Denysyuk, ou Lana, como lhe chamam, vive em Portugal há 21 anos. Em junho de 2020 abriu o restaurante Akcentt, em Lisboa, focado unicamente em gastronomia típica ucraniana. Golubci, Borsch e Pelmeni são algumas opções na carta. Clientes de todas as nacionalidades vêm provar a comida caseira do país de leste.
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Em Portugal conseguiu concretizar dois sonhos: aprender a pintar a óleo e abrir um restaurante. Foi na Ucrânia, ainda criança, que Daryna Denysyuk, ou Lana, como lhe chamam, aprendeu a cozinhar com a avó. Hoje cozinha para clientes de todo mundo no seu próprio restaurante, o Akcentt, que significa sotaque em ucraniano. Entre os seus clientes a opinião é unânime: os pratos de Lana fazem lembrar a "comida da avó".

Na rua Barão de Sabrosa no 16A vêm-se flores na janela: planta do trigo e girassóis, dois símbolos da Ucrânia. Na porta está pendurado um sinal que diz aberto em três línguas diferentes: português, inglês e ucraniano. No interior, o Akcentt é um espaço pequeno e acolhedor, decorado com símbolos ucranianos. Na parede encontra-se pendurada a bandeira amarela e azul, trazida diretamente de Kiev por um conhecido russo de Lana casado com uma ucraniana.

Daryna Denysyuk é originária da região de Kmenytsky, onde ainda estão os pais e a irmã. Inicialmente queria mudar-se para Itália mas devido a problemas com o visto, veio para Portugal, onde se encontra há 21 anos. "Ainda bem, porque me apaixonei por este país", diz Lana em conversa com o DN durante um almoço - o espaço só está aberto para jantares.

Começou por trabalhar como empregada doméstica e cuidava de duas crianças. Aprendeu a pintar a óleo, mas, devido à falta de tempo, o hobbie ficou por trás, perdurando alguns quadros que pintou nas paredes da sua casa. Só em junho de 2020 é que conseguiu abrir o restaurante que há tantos anos sonhava. Inicialmente, era de cozinha portuguesa em regime takeaway, devido às restrições da pandemia. Pouco a pouco foi introduzindo a gastronomia ucraniana, com paladar caseiro numa cozinha que relembra a sua casa.

Começou com as sopas frias ucranianas no verão - atualmente não se encontram no menu, devido ao tempo frio, mas irão voltar na sua época. E hoje em dia, todos os pratos são de origem ucraniana. "Quando eu estou na cozinha estou na minha zona de conforto. Gosto de cozinhar", afirma.

Nas opções de entradas do menu, está uma tábua de entradas com pepino marinado (2€), salame e salo (5€) (toucinho, gordura do dorso do porco) acompanhado com tomate cherry marinado (2€) e molho de rábano misturado com sumo de beterraba. A recomendação da Lana é o acompanhamento com pão preto, salo, pepino e molho de rábano e beterraba. "Nós crescemos a comer Salo. Nós até temos uma piada que o Salo é a droga ucraniana", explica a proprietária.

Sopa Borsch (5,80€) pode ser também outra opção de entrada. Leva carne de porco, batata, feijão, couve, beterraba e erva endro (Krip em Ucraniano), que o sabor marcante faz toda a diferença no paladar. É aconselhável acompanhar com Pampushky (1,50€) (uma espécie de pão de alho). Na mesa não pode faltar a nata, smetana, (0,60€) para misturar na sopa, tornando-a mais cremosa. A Salada Olivié (6,5€), outra entrada, leva mortadela, batata, ervilhas maionese. Um prato típico na passagem de ano na Ucrânia. E outra opção de salada, a Salada Shuba (7,50€), feita com camadas de peixe arenque, cebola e beterraba.

Para prato principal há três opções de carne: Pelmeni (11€) (carne de porco crua e picada, envolvida por uma massa fina), Golubci (9,20€) (couve cozida e recheada com arroz, carne de porco, natas) e crepes de carne de porco picada. Lana gosta de colocar uma gota de vinagre por cima de Pelmeni, aconselhando os clientes a provar este prato desta forma. Aos seus clientes portugueses, que nunca provaram comida ucraniana, recomenda o Golubci como primeira experiência.

Vareneki é uma opção vegetariana da gastronomia ucraniana - massa cozida, com a opção de variados recheios: batata (8€), couve (8,5€), requeijão (10,5€) e batata com cogumelos (9€).

No final de cada refeição, Lana oferece vários chocolates ucranianos aos clientes e estes podem deixar uma pequena mensagem nas paredes do restaurante.

Os clientes que por ali passam são de todas as nacionalidades, desde jovens portugueses a turistas canadianos, que vêm à procura de gastronomia deste país. "Infelizmente, a guerra criou mais procura pelas coisas da Ucrânia. O mundo ficou a conhecer o país por causa da guerra. Até mesmo turistas vêm à procura de cozinha ucraniana em Portugal", explica Lana.

Tocando no tópico da invasão russa, Lana sente que a Ucrânia está a servir de escudo para o resto da Europa. "Ele [Vladimir Putin] já tinha avisado há muitos anos, mas parecia que ninguém queria ouvir. Por causa dele, sofrem tantas famílias. Na minha terra, à noite, no inverno as pessoas ficam sem luz e ficam ao frio. Agora, faz um ano desde o começo da guerra e não sei o que ele vai fazer mais".

Lana lembra-se do dia em que a invasão russa começou. Ia trabalhar para o restaurante, mas o apoio dos portugueses ao seu país impressionou-a. "As pessoas passavam de carro a buzinar e diziam 'Estamos como vocês! Força!!!'", conta.

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