Airbus admite falhas nos novos aviões da TAP
Pequenas gotas de óleo libertadas no arranque do motor e o sistema de ar condicionado estão na origem dos cheiros estranhos que têm sido detetados nos novos A330 Neo comprados pela TAP, reconhece a Airbus, em carta enviada à TAP, datada de 7 de junho, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso. Mas para o mal-estar reportado pelos tripulantes - tonturas, vómitos, enjoos, desorientação, cansaço extremo e até sensação de desmaio - a fabricante europeia de aviões continua sem resposta. "Foram reportados dois efeitos diferentes: cheiros pouco comuns e sintomas de desconforto, não havendo uma correlação entre os dois fatores", refere.
"Durante a fase de testes de voo, identificámos que o arranque do motor poderia gerar odores na cabina", explica a Airbus, acrescentando que numa utilização contínua superior a cem segundos "algumas gotas de óleo poderiam ser libertadas no compressor de alta pressão", o que provocaria "cheiro a óleo durante a fase de táxi, descolagem e subida". A empresa diz que já adotou duas medidas mitigadoras deste efeito, tanto em terra como durante a descolagem do avião. E acrescenta na carta enviada à TAP que estes dados seriam partilhados com a EASA no final de junho.
Mas não é só. "Durante as primeiras fases de serviço, o sistema de ar condicionado foi identificado como outra fonte de odores", diz a Airbus. Este fenómeno está relacionado com a temperatura de saída do ar proveniente do compressor de alta pressão que interage com o revestimento (uma espécie de tinta primária anticorrosão). E explica que também esta situação já foi mitigada com tratamentos anticalor e maior circulação de ar para os aviões em operação.
"Apesar de estas duas origens terem sido solucionadas, os relatórios indicam que os odores ainda estão presentes", com a Airbus a assumir que "não podemos descartar outras potenciais causas para o problema".
Ao DN/Dinheiro Vivo, a fabricante europeia garante que, "no que diz respeito aos cheiros, foi formada uma task force, com a colaboração dos nossos fornecedores. As investigações técnicas estão já em curso para explorar uma lista exaustiva de potenciais causas do problema". E acrescenta que "estão a ser adotadas soluções mitigadoras ou permanentes".
Já os enjoos reportados por tripulantes - o sindicato dos tripulantes de bordo (SNPVAC) ameaçou avançar com uma greve caso não haja medidas efetivas para resolver o problema - continuam um mistério. "A Airbus está a trabalhar de perto com o operador [a TAP] que registou estes eventos."
E não são só os tripulantes de cabina a queixar-se. Os pilotos também estão preocupados. Numa carta escrita pelo SPAC, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso, o sindicato dos pilotos diz que "tem vindo a acompanhar com grande apreensão" o fenómeno de odores e vapores nos novos aviões. Questionado, o SPAC optou por não fazer comentários. Numa missiva anterior, do início de junho, o sindicato já tinha indicado à companhia aérea que "não pretende criar alarme em torno desta situação que possa comprometer a operação da TAP".
A companhia aérea portuguesa, à semelhança do que já fez a Airbus, garante que os fenómenos verificados nestes aparelhos não têm efeitos nocivos para a saúde, não se tratando de gases tóxicos que possam afetar passageiros, tripulantes ou pilotos. E que a segurança dos voos não está em causa.