Ainda vamos a tempo?
Por ano existe um total de 51 mil milhões de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa, injetando-se na nossa atmosfera cada vez mais veneno. Tudo o que fazemos atualmente contribui negativamente para o meio ambiente, desde o acordar, quando ligamos a luz, desligamos o aquecedor de óleo ou até mesmo quando ligamos o esquentador para tomar um "banhinho" de água morna, incrementando-se deste modo o escalonar de um cancro que poderá vir a ser irreversível se não começar já a devida quimioterapia.
Porém, é importante não olvidar que as condições de vida mundiais apontam para o crescimento da qualidade de vida, o que somado resultará em mais produção de gases com efeito de estufa. É claro que precisamos de um "Usain Bolt" para atingir a meta desta maratona o mais depressa possível! Não obstante, não nos podemos esquecer de África, um continente "full" de desigualdades, de pobreza, falta de justiça social, havendo cerca de mil milhões de pessoas que nem sequer acesso dispõe a fornecimento de eletricidade, metade sobrevivem e não "vivem" na região de África Subsaariana, mitigando-se para os 860 milhões, um número ainda muito assustador, mas mais reduzido. Como é possível crianças estudarem à luz das velas e outras viverem em casas com uma lareira, luzes LED, falam e a siri só não diz o que não pode, sendo que todas os seres humanos merecem viver com dignidade, com um teto sobre a cabeça, com comida, com igualdade de oportunidades e com uma vida saudável e verdadeiramente produtiva e não desnutritiva. Sem eletricidade não há emprego, pois como é que se pode laborar à luz de velas? Os países mais desenvolvidos e ricos são os maiores poluidores e emissores de gases com efeito de estufa, pois a energia é barata e os países pobres de África nem "a mandar cantar um cego" emitiriam CO2. O trabalho destas pessoas acaba por se resumir à agricultura, sendo que com a "chuva" das alterações climáticas como as secas, inundações, acabam por ser os primeiros a sentir na pele as consequências destas "global changes".
Os Estados mais "fat" economicamente deveriam juntar-se "fora do papel", ao abrigo da solidariedade imposta pela boa-fé, dando azo ao auxílio de continentes e países com diminuta capacidade de suportar quaisquer custos de eletricidade, sob pena de continuarmos com um mundo e vários fossos profundos em que por ele passamos, olhamos, escutamos o eco e assobiamos a andar como se nada fosse connosco. A crise migratória constitui um flagelo global ao qual ninguém pode simplesmente fechar os olhos e acordar no dia seguinte com a expectativa de que essa constante evapore. Esta azáfama por partes dos "fat countries" contribui taxativamente para que continuemos num trilho estagnado no tempo e no espaço. Necessitamos urgentemente de refletir o porquê desta crise migratória sem precedentes, será devido ao terrorismo que consume os países da Ásia, como o Afeganistão, Iraque, irão? Será devido às alterações climáticas que condicionaram a qualidade de vida de muitos, procurando refúgio em países menos afetados por estas mudanças sui generis? Ou será por ambos? A porta não se quer aberta em países como a Polónia, como a Turquia, uma vez que a justificação é o excedente populacional que já possuem e não há emprego para todos, mas todos nós cá no fundo sabemos o real motivo, xenofobia estrutural, racismo estrutural e uma cultura inóspita, com as costas viradas ao pluralismo e à aceitação da globalização.
Voltando ao cerne da questão das alterações climáticas e como enfrentar este tsunami que se alastra com uma pujança veloz, sublinho que é medular que o todos os países do mundo hasteiem o estandarte do investimento na investigação e não esperem de forma mendiga pelas organizações internacionais, sem prejuízo da importância da missão inovação que aglomera já 24 países, bem como saliento o papel capital da comissão europeia já contribui com uma verba anual de 4,6 mil milhões de dólares para a investigação em energias renováveis.
A temperatura média da terra aumentou 1 grau deste a época industrial, todavia por este andar chegaremos rapidamente aos 1,5 e 3 graus até meados do século, e 4 e 8 até ao término deste, o que sem sombra de dúvida deverá causar desde já uma grande preocupação e tempestade mental. Os níveis do mar sobem constantemente, os dias serão mais "warm", impulsionando os fenómenos "naturais", como mais furacões, mais secas, devastando cidades e infraestruturas estratégicas, atrasando a evolução de muitos países, pois é construir, destruir, reconstruir.
Era necessário "para ontem", fecharmos as torneiras da utilização dos combustíveis fósseis e edificar sinergias com as energias renováveis. Para deixarmos a nossa pegada ecológica no mundo atual, carecemos de produzir eletricidade isenta de emissões de carbono, por exemplo através dos ventos costeiros, da energia nuclear, do hidrogénio, do calor da terra, do sol e num futuro capitalizarmos um instrumento eficaz e pouco dispendioso de captura do carbono. No entanto, ainda há uma clara problemática, a intermitência, isto é, o sol não brilha 24 horas, o vento não sopra sempre com a mesma intensidade, abrindo uma querela, como é que iremos armazenar a energia produzida de forma barata? As baterias podem vir a ser uma solução, capacitando estas de fornecer energia a cidades inteiras a um preço acessível e controlado.
A sustentabilidade não pode ser encara como um sacrifício, visto que nos trará inúmeros dividendos! Porém, o resumo da COP26 ainda não é suficiente para atingirmos uma meta lépida de chegarmos ao valor zero de emissões de gases com efeito de estufa, uma vez que o pacto do clima de Glasgow não convencionou a eliminação do uso de combustíveis fosseis, preferiu atender à expressão, redução, o que na minha opinião é uma resposta vaga e vazia. Porém, foi definida de forma mais explicita a meta a ser atingida, em que a sua agenda se prende em quatro objetivos, a mitigação, isto é, chegarmos ao net-zero global até meados do século, garantindo assim a mira da manutenção de 1,5 graus; o segundo objetivo foi a adaptação, através da proteção e blindagem das comunidades e habitats naturais; o terceiro objetivo prendeu-se com o financiamento de no mínimo 100 mil milhões de dólares anualmente em "patrocínio climático" e o quarto e último objetivo, a cooperação que assenta num efetivo "team work" entre todos os países, por forma a ser possível acelerar a ação para vencer a crise climática, através de esforços e laços que terão de ser estabelecidos entre governos, empresas e a sociedade civil, sob pena de a neutralidade carbónica nos vencer a todos e a próxima geração ser uma incógnita.
Como exclama Barack Obama, "Somos a primeira geração a sentir o efeito das alterações climáticas e a última geração que pode fazer algo a esse respeito".
João Pedro Leitão | Diretor de Due Diligence & Compliance