Ainda Marcelo

Publicado a
Atualizado a

1 - A saída de cena de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI causou polémica e até alguma comoção visível sobretudo nas redes sociais. O momento, visto por quase dois milhões de portugueses (e não se iludam porque não são dois milhões de votantes de Marcelo), foi diabolizado no Facebook e no Twitter, nos blogues e chegou mesmo a alguma imprensa.

De um momento para o outro, a informação da TVI, tida como fazendo fretes ao PS e a José Sócrates - hoje realidades diferentes - passou a fazer fretes a Marcelo e a não ter princípios éticos. Curioso. Ora, não deixa de ser irónico que muitos dos que contestam, com razão, o jornalismo Excel venham agora indignar-se porque sendo Rebelo de Sousa candidato já não poderia estar naquele papel e que, por razões de equilíbrio, o que fará agora a TVI para "compensar" Sampaio da Nóvoa ou Maria de Belém?

É certo que a televisão tem uma visão umbilical da sua atividade, mas após 15 anos de ligação afetiva com o espectador seria estranho que Marcelo pura e simplesmente se esfumasse sem uma palavra. O registo encontrado ou a que se chegou - não havia exatamente um guião, segundo José Alberto Carvalho - reforçou a forma calorosa como o agora candidato sempre se relacionou com o público. Ao longo dos anos os diferentes interlocutores nunca foram exatamente entrevistadores no sentido estrito do termo. Cada um à sua maneira funcionou como o elo de ligação entre Marcelo e os espectadores. O que vimos faz hoje uma semana foi mais do domínio do infoteinment do que do jornalismo, mas ao rematar com a expressão "momento pouco ortodoxo", José Alberto Carvalho sabia o que estava a fazer e não quis levar ninguém ao engano.

O que sucedeu poderia, isso sim, ser um estímulo para os profissionais de televisão refletirem sobre o pecado original e nacional - a existência de comentadores que estão ou estiveram na política ativa e que têm uma agenda própria. Mas também neste campo Marcelo Rebelo de Sousa constitui um caso singular porque a sua ligação à análise e até ao jornalismo tem 40 anos. Mesmo mentes livres, como Pacheco Pereira, que gostam de exibir a sua superioridade intelectual andam há décadas no comentário tendo pelo meio ocupado relevantes posições nos aparelhos partidários.

Finalmente, e Marcelo Rebelo de Sousa sabe-o bem, o estatuto de "famoso" fará com que todas as atenções, e não apenas dos comentadores e jornalistas da política, incidam sobre a sua atuação. Qualquer erro será amplificado, qualquer indecisão sublinhada, qualquer gaffe transformada num assunto sério. O que a televisão faz, e com certeza que faz e fez, a televisão desfaz. Num instante.

2 - A prova de que o tempo não é de reflexão mas de ação é que a SIC foi rápida e transferiu de sábado para domingo o comentário de Luís Marques Mendes. Preenche um vazio, mas sujeita-se à comparação. Ainda por cima vai para o ar no dia em que a SIC, por razões de programação, é mais frágil. A ver vamos.

Jikulumessu

Não assinalei devidamente a nomeação da novela angolana Jikulumessu para os Emmys, os chamados Óscares da televisão na categoria de novela onde também está Mulheres da TVI. Num país onde a produção é irregular, Jikulumessu é um trabalho de boa qualidade e que teve grande impacto quando foi exibido na televisão pública de Angola. É uma novela em que cerca de metade da equipa operacional e de produção era portuguesa, a começar pelo realizador Sérgio Graciano, mas a RTP, que se tinha comprometido a exibir a história, tratou-a ao deus-dará.

Canal de notícias

Poucas coisas são tão irritantes em televisão como os canais de notícias 24 horas, não só não serem 24 horas como não terem por vezes em horários mais do que normais os seus noticiários. Exemplo: TVI24, sábado 7 da manhã. Então e porque não viu outro canal? Um emigrante que procura o TVI Player quer ter o serviço que é suposto existir. Em vez disso sai um programa enlatado. A TVI não está sozinha. O canal de informação da RTP continua a não ter notícias durante a madrugada.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt