Ainda mais Melhor do Mundo. Como o Red Frog subiu 27 lugares no World's 50 Best Bars
Verem o seu Red Frog surgir na lista dos Melhores Bares do Mundo não é já novidade para os empresários Emanuel Minez e Paulo Gomes. A primeira vez aconteceu em 2017, dois anos após a inauguração; a segunda o ano passado, tendo-se o caos da pandemia metido pelo meio. Mas a entrada para o Top-50 - e para o 40.º lugar - é algo que só pode deixar os e bartenders (e toda a sua equipa) exultantes. Uma eleição que ainda, pela primeira vez, elegeu para o topo da tabela um bar fora de Londres ou Nova Iorque, o Paradiso, em Barcelona.
A entrada para o Top-50 deixou, ao mesmo tempo, Minez e Gomes um pouco surpreendidos, ainda que tenham trabalhado para isso. "Tivemos a surpresa, o ano passado, de ter reentrado para a lista", diz ao DN Emanuel Minez. Tinham então ficado em 67.º lugar de um ranking que, apesar de se chamar World"s 50 Best Bars classifica, na realidade, os Melhores 100.
Mesmo esta posição era já uma enorme subida relativamente à anterior classificação - 92.º - obtida quando o bar era noutro local, na Rua do Salitre, em Lisboa. O conceito já era o mesmo e até a decoração semelhante ao atual, só que o espaço era muito maior. Mas um diferendo com o senhorio - "a dada altura pediu-nos 900 mil euros pela cave do prédio, que nem podia porque não estava sequer em propriedade horizontal!", conta Minez - e os lockdowns da covid obrigaram a refazer tudo.
A saída do Salitre aconteceu e "em agosto de 2020 estávamos tão desmotivados que estivemos mesmo para acabar com o Red Frog", admite Emanuel Minez. Mas, felizmente, antes disso, deu ouvidos à sua mulher, Ângela, que dizia: "Por que é que não metes o Red dentro do Monkey?"
Expliquemos: o Monkey (Mash) é um muito agradável bar, também de Minez e Gomes, na Praça da Alegria (para os lisboetas mais antigos, no espaço que era do Fontória). Com algumas obras - "aproveitando o segundo lockdown", como conta Paulo Gomes - eliminou-se um espaço do Monkey e nasceu o novo Red Frog, totalmente escondido dentro do outro bar. Agora sim, um verdadeiro speakeasy - bar inspirado no tempo da Lei Seca americana, em que ninguém sabia que existia ali um local onde se bebia álcool e onde, dada a clandestinidade, se podia falar livremente de tudo - como era o conceito original.
De tal forma que os clientes para entrarem no Red Frog, após fazerem a marcação online, são levados até ao que parece uma parede normalíssima que na realidade é uma porta secreta. É ver para crer.
"Este conceito é muito inspirado no que nos Anos 90 foi criado [pelo bartender] Sasha Petraske, quando abriu o Milk and Honey em Nova Iorque. Ele abre um speakeasy porque o dono do espaço lhe diz que pode abrir um bar desde que ninguém saiba que está ali um bar", explica-nos Paulo Gomes.
E ainda que tenham perdido lugares - "estamos com um terço da capacidade que tínhamos", lembra Minez, pelo que muitas vezes é mesmo difícil fazer reserva -, os empresários reconhecem que esta fórmula representa para o projeto uma mais-valia.
Com o regresso à lista dos 50 Best, no ano passado, ambos sentiram ainda que este era um ano para crescer a nível de representação e de turismo. Afinal, "Lisboa, e o país, está na moda", como diz Minez. Entre várias iniciativas, criaram programas de hospitalidade, com bartenders ou donos de bares da lista ou da Península Ibérica que vieram fazer as suas criações ou dar master classes e comunicar com os clientes. Ações realizadas em conjunto com o Monkey Mash, mas que habitualmente concluíam no Red Frog.
Mas estes foram apenas alguns fatores que terão agradado aos jurados do World"s 50 Best Bars. Quem são eles? "No mundo, estamos a falar de 600 e tal pessoas, jornalistas, bloggers, escanções, influencers, barmen, pessoas ligadas a marcas... Visitam anonimamente os espaços e votam", explica Emanuel Minez.
Não há assim um único fator ou razão para que este ou outro qualquer espaço entre, suba ou desça no ranking. "Não é só coquetelaria é a hospitalidade, o ambiente, a nossa história, o que trazemos diferente em relação aos outros, é um somar de pontos", nas palavras de Paulo Gomes. Mas, claro, as bebidas ajudam. E muito.
Neste último ano Paulo e Emanuel optaram por revisitar os clássicos do Red Frog e refazê-los. "A pandemia tirou-nos o que gostávamos, que era conviver. O que nós quisemos a seguir foi que as pessoas revivessem, então criámos o menu Reviver. Foi reviver não só o espaço, mas também a noite, o cocktail e as bebidas que eram já um sucesso", diz Paulo Gomes.
As pessoas perceberam. E gostaram. E voltaram para mais.
Há, no entanto, duas bebidas que estão no menu desde o primeiro dia sem mexer. E vão continuar. Uma chama-se Spiced Rusty Cherry. "Está na lista desde o dia 1 e simboliza o ADN do Red Frog", como diz Paulo Gomes.
Leva rum, melaço, mas também ginja e vinho do Porto. E é fumado. Aliás, vem para a mesa completamente a fumegar. Simboliza de tal forma o que é o Red Frog que, segundo Gomes, muitos clientes limitam-se a pedir: "Queremos o do fumo". "Este nós ainda não o conseguimos tirar da carta. Está cá desde o dia 1 e não saiu nunca", afirma.
Outro igualmente único e "de assinatura" é o American Gangster. "É o mais forte dos nossos cocktails. Tem bourbon - só os gangsters é que tinham acesso a bourbon na prohibition -, vinho da Madeira, maple com café, chocolate, cacau e canela. É servido diretamente da garrafa e não tem diluição nenhuma. Durante os 10 - 15 minutos que deve ser bebido vai mudando a temperatura - vem muito frio e vai evoluindo", descreve Paulo Gomes.
A utilização de Porto ou ginja nos cocktails acima não é por acaso. "De início não trabalhávamos muito com produtos nacionais, mas começámos a ser mais justos connosco próprios, até porque é isso que nos diferencia dos outros", diz Paulo Gomes". E dá outro exemplo: "Toda a gente mundialmente utiliza sherry, ora o nosso sherry é Madeira."
Isto também ajuda a que todas as bebidas do Red Frog tenham, para o paladar do turista estrangeiro, um sabor único: "Toda a gente, quando vem a Lisboa, vai beber uma ginja. Chega aqui, pede um Spiced Rusty Cherry e vai identificar ginja. Estes pequenos pormenores fazem com que as pessoas percebam que estes cocktails são únicos, são nossos, não são recriados", diz Gomes.
E mesmo para quem não aprecia propriamente cocktails, mas gosta simplesmente de bebidas alcoólicas, o Red Frog pode surpreender. Por exemplo, "temos um rum Plantation que é exclusivo do Red Frog, do Panamá", diz Paulo Gomes, que continua: "Ou temos um whisky finlandês, o Kiro".
E depois mostra-nos como os franceses são capazes de produzir bons whiskys. Sim, o produto da Escócia vindo de excelente qualidade pela mão dos gauleses. Duvida? Dê um salto ao Red Frog.