Afinal não é ainda tarde demais para os ursos-polares. Esta é a boa notícia de hoje na Nature, que faz capa do tema a partir de um artigo de cientistas dos Estados Unidos e do Canadá. O seu estudo indica que, se as emissões de gases com efeito de estufa forem reduzidas nas próximas duas décadas, as grandes extensões de gelo do Pólo Norte, que são o habitat destes animais, têm grandes hipóteses de não desaparecer do mapa..Um estudo de 2007, da mesma equipa da Geological Survey dos Estados Unidos que também participa no estudo publicado hoje, lançou o alarme: até 2050, dois terços dos ursos-polares poderiam desaparecer devido ao degelo acelerado no círculo polar Árctico. Foi na sequência dessa análise que, em 2008, IUCN decidiu classificar o urso-polar (Ursus maritimus) como espécie ameaçada, devido às alterações climáticas..Hoje existem nas regiões do Árctico dos Estados Unidos, Gronelândia, Canadá, Noruega e Rússia entre 20 mil e 25 mil ursos-polares e o degelo é uma realidade. Nos últimos 30 anos, o gelo árctico oceânico encolheu entre 15 e 20 por cento e há estimativas que apontam para uma perda que até final do século pode ir dos 10 ao 50 por cento..O urso- -polar depende desse gelo para caçar a sua presa predilecta: a foca. Só que, com as alterações climáticas - no Árctico a subida da temperatura média é duas vezes superior à da média mundial -, o gelo oceânico no Árctico está a diminuir, e a derreter mais cedo na Primavera e a regressar mais tarde no Outono..Os cientistas voltaram por isso a avaliar a situação e no estudo hoje publicado decidiram introduzir uma outra pergunta: e se as emissões de gases forem reduzidas? A resposta é que, nesse caso, o degelo pode ainda ser travado para preservar o habitat desta emblemática espécie.."O que tínhamos previsto em 2007 baseava-se unicamente num cenário de referência, que partia do pressuposto de que as emissões dos gases com efeito de estufa continuavam a aumentar ao mesmo ritmo que até então", explicou o principal autor do estudo, e investigador do Geological Survey, Steven Armstrup..A nova análise mostra que o temível ponto de não retorno neste processo, o nível de aquecimento global para lá do qual o degelo generalizado se tor-naria irreversível, não existe. E que, pelo contrário, se houver nos próximos 20 anos uma redução de emissões, o actual ritmo de degelo pode ser travado.."Os nossos resultados são uma mensagem de esperança mas também um incentivo à redução das emissões", sublinhou Cecília Blitz, outra autora do estudo.