Ahmadinejad utiliza o nuclear para criticar os Estados Unidos
Ao Presidente iraniano nunca se vê um sorriso. Jamais se expressa em inglês, mas, quando o tradutor não repetiu o que o líder dizia, corrigiu-o, e não começa um discurso sem invocar Deus misericordioso. Por essa razões, as suas conferências de imprensa são levadas muito a sério e, com a segurança que o protege, ninguém se aproxima além do perímetro autorizado, sob ameaça de, pelo que se observou, começar por levar um bom empurrão.
No entanto, Ahmadinejad está habituado às provocações dos jornalistas ocidentais e até já aprendeu uma técnica bem americana, a de dizer: "Essa é uma boa questão!" E, quando lhe perguntam sobre a pretensão do Irão de usar energia nuclear, essa técnica veio mesmo a propósito, pois tinha intenção de usar este palco mundial para criticar os EUA e as restrições impostas a este programa no seu país.
Para Ahmadinejad, o "ambiente é a grande bênção de Alá", e isso, disse, está bem escrito no Alcorão, tal como se alguém cortar uma árvore ou poluir está a agir mal, enquanto optimizar os recursos naturais é naturalmente obrigatório para os muçulmanos. Depois de referir como o seu país tem sofrido com as alterações climáticas, concluiu que o Irão deve beneficiar de uma energia mais limpa do que aquela em que o seu solo é rico - combustíveis fósseis - e que essa é uma obrigação para uma nação que se considera na primeira linha de novos comportamentos ambientais. "O nuclear é a solução", especificou e, para que não restem dúvidas, questionou porque é que os EUA "têm um número tão elevado de centrais nucleares se estão tão preocupados com o ambiente?"
Seguiu-se mais uma pergunta interessante. E quem garante que o Irão utiliza o nuclear com intenções pacíficas? "Dou uma breve resposta. Qual é o critério para a confiança?" A seguir, o Presidente iraniano partiu para a questão política que o separa dos EUA e acusou este país de "desde que estabelecemos a República Islâmica que os Estados Unidos estão contra nós, porque antes tinham quase todo o nosso petróleo". Ahmadinejad ainda foi mais longe e mostrou-se disposto a fazer um acordo para o enriquecimento do urânio desde que os EUA e países ocidentais acabassem com as ameaças" e negou a intenção de possuir a bomba atómica. E, despediu-se com um agradecimento aos jornalistas pelas perguntas e chamou-os "anjos da paz".
Pouco depois, foi a vez de Hugo Chávez fazer o seu número já habitual em encontros da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), ao responder que nenhum dos líderes abandonaria a sala só porque tinha acabado o tempo da sessão e autorizou "os periodistas tão interessados" a continuarem a fazer perguntas sobre questões dos países ali presentes. Quanto à ausência de um acordo em Copenhaga, explicou que a "forma e a fórmula estavam erradas".