Por muito que as atenções dos 85 mil que todos os dias passam pela Cidade do Rock se centrem no que vai acontecendo sobre os palcos, na verdade há quem passe mais tempo a preparar o que acontece precisamente do outro lado. E entre os camarins a azáfama é tão intensa como no backstage de um palco ou em qualquer outro centro da vasta equipa de produção do festival. .Este ano os camarins dos artistas que atuam no Palco Mundo foram instados num centro de congressos junto à Cidade do Rock, o trânsito de artistas do palco para aqui sendo apenas uma das muitas preocupações de Ingrid Berger, a incansável responsável por todo este espaço. O ritmo de trabalho é tremendo. "Acabamos um dia às três da manhã e às três e um minuto começamos a trabalhar o dia seguinte", revela a responsável de uma equipa de mais de 20 pessoas, às quais junta mais quatro num pequeno camarim junto ao palco. .Ao cair da noite de domingo não eram uma nem duas, mas sim três, as preocupações maiores de Ingrid. Chamavam-se Jessie J, Alicia Keys e Justin Timberlake e, como ela mesma confessou "chegaram todos ao mesmo tempo!". E, gracejando mesmo perante uma montanha de assuntos a resolver, dizia: "uns querem peixe grelhado, outros querem massa"... .Os pedidos de alimentação estão, em alguns casos, definidos há já várias semanas e esses estão naturalmente preparados. Mas para ideias de ultima hora Ingrid não pode senão reagir com o que tem à mão: "japonês, pizza, massas e as comidas do catering". Há exigências que dão trabalho, até porque "nem tudo está disponível no Brasil". Beyoncé, por exemplo, "só bebe água em garrafas de vidro" , o que obriga a comprar águas importadas. Frutas, legumes e comidas saudáveis são hoje as mais pedidas, o que representa uma substancial diferença face a hábitos de há alguns anos. "Este ano, por exemplo, ninguém pediu hambúrgueres", revela. Os Metallica, conta, pedem um jantar quente com mesas, facas, garfos... "São gentlemen", diz Ingrid, que explica que, tal como os Metallica, também os Bon Jovi ou Bruce Springsteen o são. "Destroem guitarras no palco mas não destroem camarins", comenta com humor. Mas Ingrid já teve figuras mais difíceis em mãos. Prince, Rod Stewart ou Axl Rose são os nomes que dá como exemplo. Por contraste, "Jack Johnson, os Coldplay ou Santana" não dão trabalho nenhum, acrescenta. .E como nem só de comidas vivem as exigências de quem gere camarins, houve outras solicitações a responder. Os Metallica, por exemplo, pedem uma lavandaria. "A equipa deles chega às sete da manhã, lava e passa a ferro", descreve Ingrid, que conta que neste domingo houve cinco pessoas a passar vários fatos de Justin Timberlake. Alicia Keys, cuja equipa trouxe um camarim com brinquedos para o filho, pediu tudo em branco para o seu espaço. Móveis, cortinas, flores... "Na próxima semana [durante a qual atuarão nomes como os Metallica ou Iron Maiden] faremos tudo a preto", avançou. .Longe do centro da cidade, a Cidade do Rock nesta edição do Rock In Rio não permite alguns pedidos de última hora. Já Lisboa é diferente, a localização da Quinta da Bela Vista facilitando outro acesso a soluções. No Brasil nem tudo o que é pedido existe e, por vezes, Ingrid tem de sugerir alternativas nas marcas de biscoitos ou tipos de cerveja. Em tempos não encontrar um produto era uma dor de cabeça para si. Hoje não tem tantos problemas a dizer que o pretendido não está ao seu alcance. Atende mesmo assim a 95% do que solicitam. .Ingrid compreende os pedidos e exigências que lhe chegam às mãos. Sabe que quem está na estrada entra numa cidade diferente a cada noite "e o único lugar que reconhece é o hotel e o camarim". Daí que "tente fazê-los sentirem-se em casa". Além disso não esquece o lugar onde trabalha. Aqui juntou aos camarins "docinhos brasileiros para eles saberem que estão no Brasil". Já em Lisboa costuma ter pastéis de Belém.