Água-pé e jeropiga

A festa dos magustos
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É São Martinho, tempo de magustos, essa festa que traz para a rua das aldeias enormes fogueiras onde se vão assando as castanhas. E onde depois a rapaziada salta por cima do fogo, fruto já da influência do álcool que vai escorrendo pelas gargantas. Nas cidades são os assadores de castanhas, com os seus carrinhos a pedais ou adaptados de pequenas motorizadas, que enchem o ar daquele fumo bem cheiroso que nos abre o apetite. E mesmo em casa e nos restaurantes, a bela castanha assada faz parte da ementa nesta época do ano.

Mas como produto farinhento e seco, embora de paladar inigualável, a castanha necessita de ser «regada» por companhia adequada - de que o vinho tinto será a mais vulgar, à refeição ou numa petiscada de fim de tarde. Os licorosos foram desde sempre a companhia mais habitual e, na grande restauração ou em casas senhoriais, era o vinho do Porto que chegava à mesa para acompanhar as castanhas. Ainda hoje me delicio com um Porto Tawny, ligeiramente refrescado, a acompanhar uma dúzia (ou duas!) de castanhas assadas como deve ser.

No entanto, foram duas bebidas mais simples, e que têm ligação directa com as vindimas, que se tornaram populares um pouco por todo o país, com maior incidência no Norte, onde está mais arreigada a tradição dos magustos e do consumo da castanha: a água-pé e a jeropiga. São ambas bebidas com baixo teor alcoólico, feitas como aproveitamento dos subprodutos da vindima, mas que se bebem com prazer (e em maior quantidade) e ligam bem com a estrutura das castanhas assadas.

A água-pé é feita juntando água ao bagaço (ou engaço), que são os pés dos cachos de uvas depois de retirados dos lagares. Há ainda alguma concentração alcoólica mas a bebida fica mais suave, com muito menos álcool e ligeiramente adocicada. Consome-se nesta época do ano e não se conserva normalmente por mais tempo. Mas a tradição manda que se faça de novo todos os anos.

Já a jeropiga é produzida adicionando aguardente ao mosto das uvas que ainda está a fermentar, interrompendo assim a fermentação (como se faz com os outros vinhos licorosos, só que aqui utiliza-se o mosto). Resulta uma bebida bastante doce e com algum grau alcoólico, que se bebe com prazer e que faz óptima companhia às nossas castanhas assadas. Hoje já é possível encontrar nas grandes superfícies jeropigas engarrafadas, que podem conservar-se durante algum tempo em garrafa. «Pelo São Martinho, comem-se as castanhas e bebe-se o vinho!

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