Agricultura angolana projeta internacionalização
Angola espera conseguir captar nos próximos anos cerca de 33 mil milhões de dólares em investimento direto estrangeiro para o setor agrícola revelou Ivan dos Santos, secretário de Estado da Economia daquele país.
A revelação foi feita no Fórum do Investimento 2023, uma reunião que decorreu, no final do mês passado, em Roma, sob os auspícios da ONU para a Agricultura e Alimentação (FAO) e que teve como temas centrais a sustentabilidade empresarial num mundo em rápida evolução e a diplomacia económica e comercial entre Itália e África. Angola participou pela primeira vez, como convidada neste fórum.
Em declarações exclusivas ao DN, Ivan dos Santos sublinhou a importância desta participação como sendo "o reconhecimento internacional das medidas que Angola tem adotado, desde 2017, e que as mesmas, têm surtido o efeito desejado e suscitam o interesse internacional".
Angola tem desenvolvido programas de fomento agrícola em parceria com organizações multilaterais e parceiros de desenvolvimento. "Estes programas fazem com que estejamos alinhados aos padrões internacionais exigidos, o que tornam Angola num parceiro internacional confiável no setor da agricultura" referiu Ivan dos Santos.
Angola tem cerca de 50 milhões de hectares aráveis e 5% das reservas de água doce do mundo e tem mais de mil quilómetros de linha férrea que ligam o litoral Atlântico ao interior da África Austral, que dão acesso a mercados internacionais a países como a República Democrática do Congo, Zâmbia e Zimbabwe.
Angola está a desenvolver, com o apoio do Banco Mundial (BM) o chamado Corredor de Desenvolvimento do Lobito, com um conjunto de plataformas logísticas.
"Angola e a República do Congo possuem cerca de 130 milhões de consumidores, queremos mais investidores nesse corredor porque investir nesse corredor não é apenas investir em Angola, é investir no mercado dessa região", sustentou o secretário de Estado.
A delegação angolana no Fórum de Investimento contou também com a participação de João Cunha e Ivan Cunha, respetivamente secretários de Estado da Agricultura e da Indústria.
Ao DN Ivan dos Santos revelou que "uma das maiores empresas mundiais de mecanização agrícola está a estudar a possibilidade de instalar, em Angola, uma fábrica de produção e montagem de maquinaria agrícola".
As reformas políticas e económicas no setor agrícola estão incluídos em três planos de fomento, o Planagrão, que visa transformar Angola, no prazo de cinco anos, num país autossuficiente na produção de cereais, nomeadamente do trigo, da soja, do arroz e do milho. "O Estado angolano participará na cnstrução de infraestruturas, enquanto o setor financeiro, através do Banco Angolano de Desenvolvimento e privado, através de bancos comerciais nacionais e internacionais, com a concessão de créditos ao setor privado", sublinhou o governante angolano.
O Planapecuária, estruturado para transformar Angola numa referência regional na pecuária, em três anos, e o Planapescas, que visa criar o país autossuficiente na captura e consumo de pescado. "Estes três programas têm também uma orientação de exportação tendo em conta o enorme potencial de consumo a nível regional", acrescentou o secretário de Estado.
A guerra no Leste da Europa provocou uma crise de escassez de cereais em África, nesse sentido Angola está a apostar em tornar-se no país líder regional da produção de cereais.
"O mercado africano apresenta grandes necessidades de consumo de cereais, que na nossa realidade tem uma dupla valência, o consumo humano e o consumo animal. A capacidade de produção regional está muito abaixo das necessidades e isso representa uma oportunidade para o nosso país tornar-se num líder regional na produção de cereais", disse o responsável angolano.
O Fórum de Roma contou com a participação de 75 países e mais de mil participantes. Guerda Barreto, representante residente em Angola da FAO revelou que a delegação angolana realizou mais de 15 reuniões com instituições financeiras internacionais, nomeadamente com o Banco Mundial (BM) e o Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD).
Pietro Toigo, do BAD, disse que esta instituição "já promoveu para Angola seis projetos de investimentos avaliados em 2 mil milhões de dólares" e adiantou que, neste momento, estão em curso investimentos no setor agrícola, na província de Cabinda denominado Projeto Integrado de Desenvolvimento das Cadeias Agrícolas, bem como o da agricultura tropical, com realce para as frutas tropicais, cacau, café e tubérculos".