Agricultores sem resposta ao fogo

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A maioria dos agricultores alentejanos não vai conseguir fazer prevenção contra os incêndios nas suas propriedades, como pretende o ministro da Agricultura. Costa Neves defende que os proprietários das terras têm um papel importante na elaboração dos chamados planos de prevenção municipais, mas o presidente da Associação de Agricultores do Distrito de Évora, Francisco Carolino, alerta para a descapitalização da lavoura.

No terreno, a «tese» parece confirmar-se. Com a barragem de Alqueva como pano de fundo, sensibilidade para a problemática dos fogos não falta a José Matos. Este agricultor - cuja herdade logrou escapar ao violento incêndio que fustigou a zona este Verão - sustenta: «todos sabemos como é que a prevenção se faz. O problema é que nem todos temos bons tractores, nem outro género de equipamentos para meter na terra».

Segundo este proprietário, a única forma de preparar as terras para a época de fogos passa por uma «rigorosa intervenção do próprio Ministério da Agricultura, que terá de entrar nas suas propriedades para abrir aceiros ou limpar as terras. Aí, contará com autorização e colaboração», acrescenta.

Este exemplo vem ao encontro da ideia defendida por Francisco Carolino, para quem o Estado «nunca poderá contar com os agricultores para que, de iniciativa própria, façam as desejadas acessibilidades e respectivas limpezas. Essa medida vai ter pouco efeito prático», garante, alegando que os produtores estão descapitalizados.

«Estamos a falar de zonas de minifúndio, onde os acessos custam mais a fazer e de pequenos proprietários sem quaisquer meios. Há a agravante de nem as estruturas associativas terem esses meios de salvaguardar à mão», insiste.

Francisco Carolino afirma ainda que «o ministro deveria equacionar a questão das especificidades de cada região». Isto de forma a que «seja o próprio Estado a disponibilizar meios que permitam fazer uma prevenção eficaz, tendo a certeza de que os agricultores e produtores florestais estão sensibilizados para o problema e estão disponíveis para colaborarem nessa matéria. Isto desde que tenham o apoio do Governo, das direcções regionais e das autarquias», ressalva.

Para o presidente da Câmara de Portalegre, também com vasta experiência agrícola e em matéria de fogos florestais - sobretudo, depois dos trágicos incêndios que devastaram milhares de hectares no seu município na Verão de 2003 - terão de ser os donos das terras a liderarem este processo.

Segundo Mata Cáceres, «os agricultores são o ponto fulcral para resolver este grave problema. Têm de se preparar com todas as armas para, em caso de fogo, conseguirem responder de uma forma organizada. Sem organização no terreno, não há bombeiros nem meios aéreos que nos valham», alerta o mesmo autarca. «Quando um incêndio está no início, mesmo em pleno montado, qualquer criança o apaga, mas quando ele ganha expressão, pouco há a fazer», afirmou Mata Cáceres.

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