Agressões da polícia em Guimarães cegaram adepto do Boavista
Tal como José Magalhães, adepto benfiquista agredido por um agente da PSP diante dos filhos, também João Freitas saiu de casa, em Matosinhos, para apoiar o seu clube - o Boavista - e acabou agredido pelas autoridades às portas do Estádio Afonso Henriques, em Guimarães.
Há, no entanto, duas diferenças substanciais entre ambos. Ao contrário do caso do último domingo no Vitória de Guimarães-Benfica, as agressões a João Freitas, há meio ano, não foram filmadas por uma câmara de televisão e as sequelas são bem mais graves, a ponto de o adepto e ex-dirigente da secção de futsal do Boavista ter perdido a visão do olho direito, que agora terá de remover.
"Fiz três intervenções cirúrgicas para tentar recuperar a visão, mas a situação não evoluiu de forma positiva. Agora, terei de fazer nova cirurgia para remover o olho. Não aguento mais as dores", contou ao DN.
A 3 de outubro de 2014, João Freitas foi com o irmão e um grupo de amigos ver o Vitória de Guimarães-Boavista, da jornada 7 da Liga de futebol. Foi de autocarro por indicação das autoridades, já que Guimarães é uma "deslocação de alto risco" e os adeptos são aconselhados a não levar viatura própria. À chegada, foi vítima da violência desproporcionada do corpo de intervenção da PSP.
"Estava fora do autocarro a aguardar pelo meu irmão, que ficou para trás, quando um agente disse "Não pode estar aqui!" e, ato contínuo, deu-me um encontrão que me atirou ao chão. Foi mais do que um agente a bater-me e muitos a assistir. Fui espancado e deixado no chão até vir a ambulância que me transportou para o hospital. Não disse nada que provocasse aquilo. Tal como acredito que o adepto do Benfica também não tenha dito. As imagens que vi no domingo na televisão fizeram-me reviver tudo", declarou ao DN este advogado de 34 anos, que desde o incidente deixou de exercer a sua profissão e que não recebe sequer subsídio de doença por trabalhar a recibos verdes.
João Freitas aguarda em casa para ser chamado a uma junta médica que lhe irá atribuir o grau de incapacidade, tal como es-pera pelo desenvolvimento da queixa-crime que apresentou no Tribunal de Guimarães e do processo disciplinar aberto pelo Ministério da Administração Interna.
Por agora, conta com o auxílio da mulher e ajuda a tomar conta do filho, de cinco anos, a quem um dia irá contar como uma agressão policial lhe mudou a vida: "Como poderei explicar ao meu filho que, quando tiver um problema, deve confiar na polícia depois daquilo que fizeram ao pai?"