"Agora quero tornar-me o mais velho de sempre a jogar na I Liga"
Aos 41 anos, e depois de quatro anos como dono indiscutível da baliza do Desportivo das Aves, Quim está de regresso ao escalão principal. Nesta entrevista, passa em revista os melhores momentos de uma carreira recheada de êxitos, mas não esquece alguns momentos amargos no Benfica.
Ainda acreditava que poderia voltar a jogar na I Liga?
Sim, sem dúvida. A partir do momento em que cheguei ao Desportivo das Aves que o meu objetivo sempre foi ajudar o clube a regressar à I Liga. Conseguimos ao fim de quatro épocas, é o culminar do trabalho de um grupo de pessoas fantásticas, que sempre me acarinharam desde o primeiro dia.
E agora, gostaria de representar o Aves no escalão principal em 2017-18?
Se dependesse só de mim, claro que sim, até porque me sinto em ótimas condições físicas. Tenho de me sentar e falar com os responsáveis do clube.
Mas ainda não houve qualquer proposta de renovação?
Não, nem tinha de ter havido, pois estávamos concentrados na subida de divisão. Agora vamos conversar e decidir.
Conquistou dois títulos de campeão nacional no Benfica. Esta subida de divisão é comparável com esses dois grandes momentos?
São situações distintas. Conquistar um título nacional por aquele que considero ser o melhor clube nacional é algo importantíssimo. Aliás, só ter a possibilidade de representar o Benfica já seria fantástico, quanto mais ser campeão e por duas vezes! No entanto, esta conquista pelo Desportivo das Aves também é marcante e teve o mesmo sabor.
Quais os objetivos para o que resta da carreira? Isto porque já percebemos que quer continuar a jogar...
Para já, jogar na I Liga aos 42 anos, o que poderá acontecer na próxima época. Temos sempre de estabelecer novos objetivos e o meu é tornar-me o jogador mais velho de sempre na I Liga.
A sua carreira não teve apenas momentos felizes, como é óbvio. Qual foi o momento mais triste?
A derrota na final do Euro 2004, com a Grécia. Ter a possibilidade de chegar à final numa grande prova disputada em Portugal não é algo que se consiga todos os dias, mas infelizmente acabámos por perder. Mesmo não sendo titular na altura, foi obviamente algo que me marcou muito negativamente.
Outro episódio negativo foi a forma como foi dispensado do Benfica em 2009-10, com o anúncio a ser feito por Jorge Jesus na TV. Ficou magoado com o atual treinador do Sporting?
Claro que não fiquei nada feliz pela forma como tive conhecimento da minha saída, depois de seis anos a representar o Benfica e tendo jogado mais de 30 jogos na época enquanto os outros guarda-redes jogaram bem menos [13 jogos para Moretto e três para Moreira]. Depois da época que fiz, não foi muito normal ter saído. Mas foi a decisão da pessoa que na altura mandava, no caso o treinador Jorge Jesus, e nada pude fazer se não dar a volta, com muito trabalho.
Recuando até ao início da sua carreira, como decidiu ser guarda-redes?
A ida para a baliza aconteceu aos 13 anos, quando jogava no Ruivanense, clube da AF Braga. Eu era avançado e, como todos os miúdos, gostava era de marcar golos. Mas houve um treino em que não havia dois guarda-redes e fui chamado para a baliza, pois era o mais alto. Gostei tanto que nunca mais saí da baliza! Aos 14 anos cheguei ao Sp. Braga.
O melhor amigo que tem no futebol?
Felizmente tenho muitos e seria injusto estar a destacar alguém. Posso dizer que ainda sou amigo de antigos colegas dos iniciados e dos juvenis. Fiz bons amigos também no Sp. Braga e no Benfica.
E qual o mais brincalhão?
Destaco de imediato dois: o David Luiz e o Rúben Amorim. Com eles não havia tristeza no balneário, estavam sempre a aprontar qualquer coisa.
Hoje em dia, sente-se mais benfiquista ou mais braguista?
É uma mistura de sentimentos. Por um lado, o que sou devo ao Sp. Braga, onde me formei. Por outro lado, aprendi a ser benfiquista. Sinceramente, não consigo decidir entre os dois clubes (risos). O pior é quando jogam entre si, quando isso acontece, olhe... que ganhe o melhor.
Qual a melhor defesa da carreira?
Todas as defesas são especiais e, por vezes, as mais difíceis são as mais simples. Às vezes há bolas no final de um jogo que pensamos que são fáceis de segurar e acabamos surpreendidos...
E o melhor jogo?
Respondo da mesma forma, os melhores talvez tenham sido os mais simples. Só ter a possibilidade de estar dentro de campo, com 41 anos, é uma enorme alegria. Considero que alegria é algo que falta a muitos miúdos que jogam futebol. Alguns jogam na II Liga e dão-se por satisfeitos, pensam que já alcançaram todos os objetivos. Não pode ser, temos de procurar mais e melhor. Eu tinha o objetivo de regressar à I Liga e agora tenho de estabelecer novos objetivos, nomeadamente a tal hipótese de ser o mais velho de sempre a jogar na I Divisão e, em termos mais imediatos, tentar não sofrer golos no próximo jogo, depois o mesmo no seguinte e assim sucessivamente.
De regresso à I Liga e com um Campeonato do Mundo em 2018, ainda pensa na seleção nacional?
Ir à seleção com 42 anos é algo que não me passa pela cabeça! Fui muitas vezes selecionado, mas a verdade é que considero que joguei pouco, pois só tenho 33 internacionalizações. Sem dúvida que essa é uma das coisas que lamento na minha carreira, apesar de ser chamado para representar o meu país constituir já um grande motivo de orgulho.
Curiosamente nunca jogou no estrangeiro. Porquê?
Surgiram algumas hipóteses para sair de Portugal, mas a minha maneira de ser não se coaduna muito com a ida para o estrangeiro. Sou muito caseiro e pouco aventureiro...
Depois de terminar a carreira gostaria de continuar ligado ao futebol?
Sim, sem dúvida. Quem passou por um lugar tão específico como o de guarda--redes ganha um carinho enorme pela posição. Gostaria de ficar ligado ao lugar de guarda-redes e de ensinar às novas gerações aquilo que aprendi.