Agnóstico

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Sou agnóstico, mantenho uma relação de igual ceticismo em relação a todas as religiões e em relação ao ateísmo. Não sendo possível provar que algo não existe não sou ateu. Não tendo até hoje, apesar do esforço das melhores e das piores mentes da humanidade, provar a existência de qualquer deus por menor que seja, também não sou crente. Sou, pois, agnóstico.

Este agnosticismo não me impede de concordar em muitos pontos com o humanismo cristão / muçulmano / budista em muitos pontos, embora prefira, naturalmente, o humanismo laico e materialista. Também não me impede de concordar com vários escritos do Papa Francisco, nomeadamente os plasmados na encíclica Laudato Si, nomeadamente quando defende a ideia de que a propriedade privada se deve subordinar ao bem comum e que quando não o faz deve ser posta em causa. Aposto que muitos auto proclamados católicos se opõem a esta encíclica do seu Papa.

O meu agnosticismo traduz-se em termos políticos na defesa da liberdade de culto e na separação das igrejas do Estado. Esta posição costuma designar-se laicismo.

É, portanto, com preocupação que vejo o significativo investimento público que o Estado central e muitas Câmaras municipais estão a fazer nas Jornadas da Juventude Católica, subsidiando abertamente uma Igreja. Claramente discordo.

Os meus impostos não devem ir para eventos desta natureza. Os eventos religiosos devem ser pagos pelos crentes da denominação que os organiza e por quem os frequenta.

Podem ter externalidades positivas? Podem. Atraem pessoas ao nosso país? Sim. Gastam como turistas? Muito provavelmente não. Não é esse, contudo, a questão de fundo. A questão de fundo é o envolvimento do Estado com uma religião, discriminando as restantes e os não religiosos (ateus, agnósticos e os religiosos não organizados em igrejas).

Se, por acaso improvável, o Vaticano nos desse uma fortuna em troca de proclamarmos o catolicismo religião oficial deveríamos aceitar? Obviamente que não. Não é por algum ganho (provavelmente diminuto, mas mesmo que fosse elevado) que devemos ceder no que toca aos princípios e valores da nossa sociedade.

Para cumulo os movimentos na área da grande Lisboa, onde vive parte significativa da população portuguesa, são restringidos para os residentes a fim de permitir a livre circulação dos designados peregrinos, isto é a livre circulação dos jovens católicos. A atribuição de direitos especiais aos católicos é, naturalmente, inadmissível. Até o Papa estaria contra.

Em suma: nada contra as Jornadas da Juventude católica, tudo contra o seu financiamento pelo Estado e contra as restrições de circulação dos residentes em favor da livre circulação dos católicos.

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