Agnetha Fältskog: O regresso da loura dos Abba
O simples anúncio de que algo vai acontecer em terreno Abba é suficiente para gerar a notícia. E nos últimos meses não faltaram notícias. Primeiro foi a abertura do museu dedicado ao quarteto sueco (que as autoridades do turismo local esperam que aumente significativamente o número de visitas anuais a Estocolmo). Depois a nova parceria criativa entre Björn Ulvaeus e Benny Andersson que, juntamente com a colaboração de Avicii, criaram We Write The Story, um hino que foi apresentado na final da edição deste ano do Festival da Eurovisão (que decorreu no passado dia 18 em Malmö, na Suécia). E em terceiro lugar, mas estimulando os apetites de novidade de muitos admiradores dos Abba (que há anos vivem, é verdade, de canções gravadas noutros tempos), há um novo álbum de Agnetha Fältskog.
Feitas as contas, e apesar de em 2004 ter editado My Coloring Book, um disco de versões de temas imortalizados por nomes como Barbra Streisand, The Searchers ou Frank Sinatra, na verdade a cantora não apresentava um lote de «novas» canções desde que em 1987 tinha lançado I Stand Alone, o terceiro do trio de álbuns que apresentara nos anos 1980 depois de interrompida a carreira dos Abba. Ao novo disco chamou simplesmente A. E assim se faz uma quase inesperada interrupção do silêncio da figura que, voluntariamente, mais se afastou das atenções depois dos Abba.
A própria cantora já definiu este regresso como uma surpresa para si mesma, e em entrevista recente transmitida numa estação de televisão italiana confessou que, em 2004, pensara que o álbum que então editara seria o seu último. O regresso deveu-se em grande parte ao desafio dos produtores, que a contactaram, sugerindo-lhe que escutasse três canções. Nelas reconheceu uma certa qualidade clássica que certamente lhe agradou. E sem a necessidade de muitas palavras para explicar o sucedido deixou, como dizia a velha canção dos Abba (Let The Music Speak) que a música falasse por si... Teve novas aulas de canto, assinou um dueto com Gary Barlow, coescreveu uma das canções. E, de repente, estava de regresso...
Revelados internacionalmente com a vitória, com Waterloo, no Festival da Eurovisão de 1974 (o mesmo em que Paulo de Carvalho defendeu E Depois do Adeus), os Abba aproveitaram o foco de atenções que sobre si era lançado para fazer o que nunca antes ninguém imaginara: transformar uma banda pop sueca num dos fenómenos mais populares da história da música. Seguiram-se canções e álbuns, digressões, filmes, telediscos... Somavam uma multidão de discos de ouro e platina quando, em 1982, quando trabalhavam já no eventual sucessor do álbum The Visitors (de 1981), resolveram fazer uma pausa. Que nunca mais terminou, o final acontecendo assim sem ser anunciado.
Desde então não deve ter faltado quem lhes fizesse as propostas mais milionárias para regressar (chegou a correr o rumor de uma eventual soma na ordem dos mil milhões de dólares). Mas nunca deram o sim. E cada vez mais parece claro que nunca o farão. Na verdade, foram raras, muito raras mesmo, as ocasiões em que os vimos juntos desde que o teledico de Under Attack (1983) os mostrava pela última vez reunidos como Abba. Em 2004, por ocasião da edição desse ano do Eurofestival da Canção (aquele que celebrava os trinta anos sobre a vitória de Waterloo), colaboraram em breves participações num pequeno filme em registo de comédia a que chamaram Our Last Video Ever (O Nosso Último Vídeo de Sempre). Um ano depois surgiam juntos na ocasião da estreia sueca do musical Mamma Mia! (baseado em canções dos Abba) e, em 2008, reuniram-se novamente em Estocolmo para a estreia da sua adaptação ao cinema.
Benny Andersson e Björn Ulvaeus, que nos habituámos a ver nos Abba, respetivamente, ao piano e com uma guitarra, mantiveram uma carreira regular depois de 1983, sobretudo como autores de musicais. Começaram logo nos anos 1980 com Chess (do qual nasceria um êxito planetário com One Night in Bangkok, na voz de Murray Head). Nos anos 1990, novamente juntos, apresentaram (em sueco) Kristina fran Duvemala. E, em 2004, o mundialmente célebre Mamma Mia!, que ainda hoje corre (com várias produções em simultâneo) por palcos de todo o globo. Em complemento a estas colaborações, Benny tem mantido uma carreira discográfica mais intensa, tendo já lançado vários discos com a Benny Andersson Band.
As duas cantoras - a alma vocal dos Abba - ganharam protagonismo a solo nos anos 1980. Anni-Frid Lyngstad (também conhecida como Frida), que já tinha obra em nome próprio nos anos 1970, editou dois álbuns entre 1982 e 1984, juntando a estes mais um em 1996. Agnetha Fältskog, que foi a voz solista em canções dos Abba como Take a Chance on Me, One of Us, The Name of the Game e, claro, a icónica The Winner Takes it All (que reflete o período de separação de Björn, com quem esteve casada entre 1971 e 1982), tinha também já uma carreira a solo anterior ao percurso que se seguiu à desagregação dos Abba.
Da Suécia para o mundo
Nascida em 1950, Agnetha tinha apenas 6 anos quando compôs Tva sma Troll, a sua primeira canção, dois anos antes de começar a estudar piano e quatro antes de ter formado a sua primeira banda. E tinha uma carreira já reconhecida quando, em 1968, se cruza pela primeira vez com Björn Ulvaeus (que nessa altura integrava os Hootenanny Singers).
Tal como, mais tarde, seria impossível determinar a data do fim dos Abba (afinal tratou-se de uma pausa para desenvolver projetos a solo que, contudo, se eternizou), é também difícil definir com precisão geométrica o seu nascimento. Em 1970, por ocasião de uma viagem ao Chipre, numa altura em que Benny e Björn preparavam um primeiro álbum conjunto, os quatro (futuros) Abba, que formavam então dois casais, deram por si a cantar perante uma plateia feita de soldados da ONU. No mesmo ano, como Benny & Björn, editavam o single Hej Gamle Man, com as vozes de Agnetha e Anni-Frid nos coros. Levando as primeiras colaborações a um patamar mais expressivo, em 1972 gravavam People Need Love, o seu primeiro single assinado a quatro, como Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid e é com este nome que gravam não só o seu primeiro álbum como participam em 1973 na final local do Melodienfestival (o Festival da Canção sueco) com Ring Ring, que termina em terceiro lugar. Sob uma visão de produção refletida em estúdio, a canção abriria as portas à chegada de Waterloo que, em 1974, representaria o primeiro lançamento com o nome Abba (e o seu primeiro êxito global).
Por ocasião do lançamento deste seu novo disco Agnetha (tal como sucedeu já com os seus antigos companheiros de banda noutras ocasiões) foi questionada sobre uma eventual reunião dos Abba... Sem meias palavras lembra que para o fazer seria preciso ter em conta quatro vontades e recorda que em tempos eram dois casais, que houve separações e muitos feitos conquistados. Questiona-se: porque haveriam de fazer algo de novo? Não vê sentido nisso, conclui. Pelo que, para recordar os Abba, continuaremos com os discos, os registos em vídeo dos concertos e telediscos. Um musical e um filme. E, agora, um museu em Estocolmo.
VOLTAR A DESPERTAR UMA VOZ
Tudo começou com três canções que os produtores Jürgen Elofsson e Peter Nordahl mostraram a Agnetha. Mas The One Who Loves You Now foi mesmo a primeira... A cantora escutou-a e sentiu que tinha de encontrar o seu lugar naquela maqueta. «Sei que não sou boa em muitas coisas, mas sou boa a interpretar uma letra», explicou em entrevista que podemos escutar no Spotify. Desafiou-se a dar tudo o que podia dar por aquela história. «Não faço coisas de forma rápida e precipitada, mas gosto da sensação de criar novos materiais e procurar a minha versão», acrescenta. E assim, aos 63 anos, estava de volta. Teve dúvidas sobre se a sua voz teria envelhecido. Teve aulas de canto. E avançou para a criação de um novo álbum onde chegou a fazer um dueto com Gary Barlow em I Should've Followed You Home (gravado virtualmente, cada qual em seu estúdio).