Agências de viagens receberam 284M em ajudas públicas, 113 a fundo perdido

A Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo diz que as quebras de faturação no setor são superiores a 50% e reclama a reativação do programa Apoiar. As empresas enfrentam dificuldades de tesouraria com os custos a aumentarem e a receita a crescer devagar.
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O ano ainda não terminou, mas já é possível antever mais um exercício de quebras históricas na faturação das agências de viagens. Segundo as estimativas de Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), "a esmagadora maioria das empresas teve uma quebra entre 50 a 100%" face a 2019. O comportamento foi "claramente assimétrico", com o impacto mais agudo a sentir-se nas atividades dos eventos e incoming, onde os decréscimos chegaram aos 100%, realça. Já nos segmentos corporate (negócios) e lazer as descidas estarão entre os 50 a 75%. E com a recuperação do setor envolta em incertezas, a APAVT alerta para a necessidade de o governo continuar a apoiar as empresas.

Desde o início da pandemia, o executivo apoiou mais de duas mil agências de viagens, num montante global de 284 milhões de euros, dos quais 113 milhões foram a fundo perdido. Como revelou ao DN/Dinheiro Vivo o gabinete da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, desde 16 de março de 2020 foram disponibilizados apoios financeiros geridos pelo Turismo de Portugal ou pelo Banco de Fomento, excluindo os apoios à manutenção dos postos de trabalho, a 2050 agências de viagens. Os apoios chegaram a 77% do universo de 2658 agências inscritas no registo nacional e tiveram foco no programa Apoiar e nas linhas de crédito com garantia mútua - Covid 19, reembolso dos vouchers e apoio à tesouraria das micro e pequenas empresas do turismo.

Apesar de considerar que estes programas do governo "ajudaram a salvar muitas empresas", Pedro Costa Ferreira lembra que o setor não deixou de estar fragilizado. O fardo que carrega é pesado. No primeiro ano da pandemia, viu descer a faturação em 92%. Segundo dados da EY disponibilizados pela APAVT, as agências de viagens em Portugal apresentaram um volume de negócios de 2,4 mil milhões de euros em 2019, tendo as receitas caído para pouco mais de 181 milhões em 2020 devido às consequências da crise sanitária no turismo. Neste difícil contexto, "as empresas têm resistido até à data, hibernaram e provaram com a hibernação uma capacidade de resistência muito grande", frisa o líder associativo. As insolvências foram menos que em 2019 e a perda de postos de trabalho foi residual - porventura contratos de trabalho que podem não ter sido renovados -, até porque de uma forma generalizada o setor aderiu ao lay off simplificado, assegura.

Nestes quase dois anos de crise, as perdas foram suportadas pelas agências e empresários, pelo recurso ao endividamento e pelos apoios do governo. No entanto, "é no momento da retoma que a pressão de tesouraria se vai adensar", aponta. Os custos da atividade irão regressar em pleno, mas a recuperação das receitas será mais lenta. E para que as agências de viagens possam ultrapassar esta vaga e dar resposta às necessidades de tesouraria, Pedro Costa Ferreira defende a reativação do programa Apoiar até dezembro. Este apoio, que terminou em abril deste ano, permitia aceder a verbas a fundo perdido de acordo com critérios de dimensão e volume de negócios. A APAVT advoga que as empresas deveriam poder aceder novamente a este programa com efeitos a partir do seu término e pelo menos até ao final deste ano.

Atualmente, as empresas de distribuição turística têm apenas ao dispor linhas de crédito. "A resposta à crise tem de ser global", integrando programas de defesa do emprego, apoios a fundo perdido e linhas de crédito para as empresas", defende. Pedro Costa Ferreira admite que o apoio à retoma progressiva, que tem permitido defender os postos de trabalho, se vai estender até à Páscoa e lembra que também já foram comunicados novos apoios à recapitalização, mas que carecem ainda de legislação. Como adianta a Secretaria de Estado do Turismo, foi agora criada a Linha de Apoio ao Turismo 2021, um programa de crédito com garantia mútua, que disponibiliza financiamento para tesouraria e para investimento, à qual também se podem candidatar as agências de viagens.

A incerteza continua a nortear o futuro. A recuperação do setor, que no verão até registou sinais promissores, vai depender da mobilidade internacional, da confiança dos consumidores em viajar e na perceção da resolução das condições sanitárias. Para Pedro Costa Ferreira, a esperança é que "sempre que saímos de uma vaga da covid, o consumo revigora e aumentam as reservas". As empresas de distribuição turística não anteveem uma retoma antes de 2023/24.

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