"África desenvolve uma diversidade de parcerias e são dignas de respeito"
A "história partilhada" pelos pela Europa e por África, com momentos "nem sempre de sucesso", e até de "dor", deve servir como "aprendizagem, para construir uma nova história a quatro mãos", destacou ontem o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, esperando que seja possível "a construção de um espaço comum de prosperidade". Os líderes europeus iniciaram uma cimeira de dois dias, em Bruxelas, com os dirigentes da União Africana (UA), para desenharem uma "nova história" comum, numa altura em que outros atores se instalam no continente.
O objetivo da cimeira, que junta 70 delegações da UE e da UA, é recuperar os laços com um continente onde outros atores, como a Rússia, China e mesmo a Turquia estão cada vez mais presentes.
Na abertura da cimeira, o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, garantiu: "África desenvolve uma diversidade de parcerias, que não têm a mesma história nem a mesma amplitude desta que é a nossa parceria com a Europa, mas as novas parcerias não são menos pertinentes, nem menos vantajosas para África". E, afirmou, "desse ponto de vista, são dignas de respeito e de serem levadas em conta".
Do lado europeu, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, anunciou que uma parte do pacote de investimentos de 150 mil milhões de euros será aplicada em "energias renováveis", que são "abundantes em África". "África tem energia solar, eólica e hidroelétrica", destacou, considerando que delas depende "o desenvolvimento económico sustentado".
Mas o presidente da UA, Macky Sall, chegou a Bruxelas com convicção de que o aquecimento global é um fenómeno pelo qual "África não é responsável". Por isso, assumiu à partida dificuldade de aproximação com a UE numa matéria em que há "pontos de vista divergentes".
"África tem menos de 4% das emissões de CO2", afirmou, considerando que por "não estar industrializada", não se pode pedir "a este continente que abra mão dos combustíveis fósseis, quando os responsáveis pela poluição continuam a utilizar fontes poluentes".
Sall apelou a "mais justiça climática para acompanhar um período de transição", até que África se possa "comprometer contra o aquecimento global". Por outro lado, lembrou que terá de "ser capaz de fornecer eletricidade aos 600 milhões de africanos que ainda não a têm".
Macky Sall saudou a oportunidade "para um novo começo", proporcionada por uma cimeira de onde espera sair com uma "parceria renovada". Como exemplos, nomeou "os grandes temas", como "o financiamento das economias africanas com a realocação de direitos especiais de saque", mas também "a paz, segurança e luta contra o terrorismo", esperando nestas áreas "discussões bem-sucedidas".
A cooperação em matéria de Segurança é temas de um dos paineis em que participou o primeiro-ministro, António Costa.
Esperam-se "novas soluções", defendeu o presidente francês, Emmanuel Macron, na qualidade de presidente em exercício do Conselho da UE. "Devemos completar o que estamos a fazer no Sahel e no Golfo da Guiné (...) mas devemos também ajudar a construir novas soluções", defendeu, apontando os exemplos de cooperação com o Ruanda e Moçambique.
joao.f.guerreiro@tsf.pt