Hoje ocorre a passagem do 69.º aniversário da criação da OUA (Organização de Unidade Africana), hoje UA (União Africana)..A evocação da efeméride deve ser sublinhada..Foi nela que, num quadro bipolar hegemonicamente influenciado pelos EUA e pela URSS, os representantes dos países africanos deliberaram que as fronteiras herdadas do colonialismo não podiam ser alteradas..Foi uma sensata e justa deliberação..As fronteiras dos países africanos eram e são artificiais, tendo resultado da Conferência de Berlim de 1985 e da Teoria da Ocupação Efetiva..Daí que as tentativas secionistas que ocorreram nas ex-províncias do Biafra, Nigéria ou na do Catanga, ex-Zaire, que declararam a independência sob a chefia do general Ojukwu e de Moisés Tchombé, respetivamente, terminassem em guerra, com a intervenção dos capacetes azuis, e posterior reintegração das regiões nos países que delas faziam parte..Ao tempo vários países reconheceram o Biafra e Portugal, devido à causa colonial, apoiou de forma clara os rebeldes nos dois casos..Em África, a exceção foi a Eritreia, que se autonomizou da Etiópia mas, neste caso, a ONU reconheceu o novo país independente por outras razões válidas..CitaçãocitacaoNum mundo pragmático e sem ideais em que vivemos, convocar a humanidade para condenar o que é desumano, fazendo-o à vista de todos, não é pouca coisa.esquerda.Vem isto a propósito das invocadas razões de Putin para invadir a Ucrânia, a pretexto das identidades dos povos do Donetsk e Lugansk, contra o Direito Internacional que a própria Federação Russa reconheceu, aceitando a Ucrânia com as atuais fronteiras, em conformidade com o Direito Internacional..Se o princípio de Putin fosse minimamente acolhido, o continente africano tornar-se-ia numa Caixa de Pandora a que só escapariam países constituídos por ilhas e, ainda assim, com exceções..Daí a deliberação da Assembleia Geral da ONU na condenação da invasão da Ucrânia com um único país africano, a Eritreia, a ser a exceção, votando contra..Encontrando-se a ONU com uma estrutura orgânica que era adequada a um mundo que já não existe, saído da Segunda Guerra Mundial, e sendo os membros permanentes do Conselho de Segurança, os países vitoriosos da mesma, o poder determinante de fazer parar a guerra não está na pessoa do secretário-geral António Guterres..Esse poder está no Conselho de Segurança e, neste, na Federação Russa, que faz de juiz em causa própria vetando todas as resoluções que condenam o óbvio, a invasão..António Guterres, discretamente, tem feito o que pode até aos limites, com uma diplomacia muito eficaz..Antes de mais, não tem tido qualquer ambiguidade, chamando à invasão da Rússia o que ela é, ou seja, invasão. E invocando, por isso, a existência de uma guerra inaceitável e, portanto, condenável..Consciente do peso crescente que a opinião pública tem nos media mundiais nos dias de hoje, fez, no momento oportuno, reforçar a sensibilização dela sobre a desumanidade dos ataques ao complexo siderúrgico de Mariupol e da grosseira violação do Direito Internacional, possibilitando a visualização pelo mundo dos horrores da guerra e a constituição de corredores humanitários para saída do inferno de cidadãos indefesos..Num mundo pragmático e sem ideais em que vivemos, convocar a humanidade para condenar o que é desumano, fazendo-o à vista de todos, não é pouca coisa..Depois visitou, sem perder tempo, três países africanos que têm regimes democráticos, o Senegal, o Niger e a Nigéria, por altura do Ramadão, sabendo que o presidente do Senegal, Macky Sall, é o presidente em exercício da União Africana..Obviamente que não o fez por acaso..Fê-lo olhando para o futuro de um continente, o africano, que tem de saber reforçar, por um lado a autossustentação, desde logo a alimentar, e constatar que, sendo os países africanos Estados à procura de serem nações com múltiplas identidades, não devem lavar as mãos, como Pilatos, nem aceitar que o Princípio Secionista das regiões integradas noutro Estado, reconhecidos internacionalmente, sejam aceites..África, a Caixa de Pandora e a postura de António Guterres estão assim na ordem do dia pela mesma razão..Secretário-geral da UCCLA - União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa