AfD rejeita ser uma alternativa mais moderada para a Alemanha
Quando nasceu, há quatro anos, em abril de 2013, a Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) era no âmago um partido antieuro. Com o seu cofundador a descrever uma "formação de um novo tipo, nem de esquerda nem de direita". De fora do Parlamento federal nas eleições desse ano, por ficar abaixo dos 5%, dois anos depois a AfD, com Frauke Petry à frente, assume-se como anti-imigração e anti-islão, além de anti-Europa, aproveitando o descontentamento com a política de portas abertas aos refugiados da chanceler Angela Merkel. Agora, com o pico da crise migratória para trás e as divisões internas a fazer o partido cair nas intenções de voto, Petry quis aproveitar o congresso de Colónia para sugerir uma via mais moderada. Uma proposta rejeitada pelos delegados.
Depois de na quarta-feira ter chocado os apoiantes ao anunciar que não seria candidata às eleições de 24 de setembro, Petry propôs ontem remodelar o partido para a partir de 2021 poder entrar em coligações de governo em vez de se perpetuar como força da oposição. Nos últimos meses, surgiram divisões entre a ala "realista", que quer romper com o discurso de extrema-direita, xenófobo, anti-imigração e anti-islão, e a linha dura. Até agora todos os partidos recusam uma eventual coligação com a AfD.
Aos 41 anos e grávida do quinto filho (o primeiro com o atual marido e companheiro de partido, Marcus Pretzell), Petry lançou o apelo aos delegados para decidirem "se a AfD pode tornar-se, aos olhos dos eleitores, uma opção realista para tomar o poder em 2021" e "como" pode chegar a esse objetivo. E não se cansou de sublinhar que as "tensões internas" e as palavras polémicas levaram a uma "erosão drástica do potencial eleitorado"da formação. Depois de ultrapassar os 15% das intenções de voto na segunda metade de 2016 - quando a Alemanha lutava para receber mais de um milhão de refugiados - e de ter entrado em 11 dos 16 parlamentos regionais, a AfD oscila nas sondagens mais recentes entre os 7% e os 10%.
Mas esta estratégia inspirada na francesa Marine Le Pen - que depois de assumir a liderança da Frente Nacional em 2011 conseguiu afastar o partido de extrema-direita do discurso racista do pai e fundador da FN, Jean-Marie Le Pen - não resultou junto da linha dura da AfD, que domina o partido. Os delegados recusaram assim discutir a moção da co-líder do partido que sugeria rejeitarem "as ideologias racista, antissemita e nacionalista". Apelos à moderação vindos de alguém que ainda em janeiro de 2016 sugeria que a polícia alemã podia ter de disparar contra os refugiados para os impedir de entrar em solo alemão.
Depois do que o Bild descreveu como um "rude golpe", Petry lamentou "o erro" do partido e acrescentou que é precisamente a "falta de estratégia" que explica as lutas internas na AfD desde a sua criação. A primeira cisão surgiu em 2015 quando cinco eurodeputados abandonaram a formação, entre eles o cofundador Bernd Lucke, descontente com o rumo xenófobo que a AfD seguira.
Apesar das divisões, Petry garantiu que fará tudo para ajudar a AfD na campanha, mesmo se não se sabe quem será o candidato a chanceler. Jörg Meuthen, o co-líder, recebeu o aplauso da maioria dos 600 delegados quando garantiu que a AfD nunca aceitará uma coligação com Merkel, com o SPD de Martin Schulz ou com os Verdes, que acusou de destruírem a Alemanha com a posição pró-imigração.
No exterior, dez a 15 mil pessoas protestavam contra a AfD, longe das 50 mil esperadas. Dois polícias (dos 4000 destacados) ficaram feridos sem gravidade quando tentavam controlar os manifestantes que procuravam impedir os delegados de entrarem no hotel.