Adriaanse deu passo atrás e ganhou
O futebol português já assistira a algo semelhante no Euro 2004 com Luiz Felipe Scolari, após o Portugal-Grécia de abertura. E ontem voltou a vivê-lo. Perante o aproximar do fim da linha, Co Adriaanse reviu os seus princípios. Frente ao Inter, num jogo de tudo ou nada na Liga dos Campeões, o holandês deu um passo atrás nos conceitos, mudou meia equipa, ganhou o jogo e, sobretudo, pode ter encontrado a fórmula para a sobrevivência. Da equipa e dele próprio.
Mão aberta à palmatória, o holandês tentou dar resposta, um a um, aos problemas da equipa nos jogos recentes. Na defesa, que sofreu sete golos em três jogos, manteve apenas Bosingwa na lateral direita, Pedro Emanuel restituiu uma voz de comando ao sector, Pepe e Cech completaram a mudança. Num meio-campo que só pensava em atacar, encaixou um médio (Paulo Assunção) que compreende a utilidade do "trabalho sujo" na recuperação defensiva. Num ataque pouco produtivo, juntou a presença corpulenta de Hugo Almeida à acção de McCarthy, servidos pela imprevisibilidade de Quaresma. Em suma, Adriaanse procurou a eficiência
Nesse aspecto, a primeira parte do FC Porto deveria ser suficiente para Co Adriaanse rever todos os conceitos de futebol que sustentaram a sua carreira de treinador. Sem ser uma máquina ofensiva, longe do futebol bonito que já apresentou, sem sequer jogar particularmente bem, conseguiu chegar ao intervalo a ganhar por 2-0. E com um rácio inédito na época dois remates e dois golos, numa relação indirecta, já que o 1-0 resultou de um autogolo de Materazzi - o segundo chegou num livre de McCarthy, à segunda tentativa.
Curiosamente, este Inter "tipicamente italiano" acabou por se proporcionar o adversário ideal à redenção do FC Porto. Principalmente porque Mancini abdicou deliberadamente do ataque, ao deixar Adriano e Recoba no banco, o que facilitou o processo de confiança defensiva do dragão, e só tentou ir atrás do resultado com o jogo irremediavelmente perdido na segunda parte. Com o desafio ganho, sem lugar a lenços brancos, nas bancadas do Dragão houve espaço até para festejar três triunfos particulares a primeira vitória sobre o "estrangeiro" Figo, o mais assobiado da noite, a continuação da seca do treinador Maldini em visitas ao Porto e a anulação do efeito Solari , que tinha os portistas como vítima privilegiada quando jogava pelo Real Madrid.