Adolescentes: os mestres da procrastinação académica
O ditado popular "não deixes para amanhã o que podes fazer hoje" é conhecido de todos, mas isso não impede muitos adolescentes de serem mestres em procrastinação académica. Este comportamento, identificado em diversos contextos culturais, traduz-se num adiamento deliberado das tarefas escolares e pode ter impactos negativos, quer no desempenho académico quer no bem-estar psicológico dos alunos.
Os adolescentes trocam com facilidade as tarefas escolares por atividades que lhes dão prazer imediato, como jogos, vídeos ou conversas no WhatsApp. Ainda mais agora, que o estudo autónomo assumiu maior peso no seu quotidiano. A promoção da capacidade de autorregulação (estabelecer planos e controlar impulsos) e a perceção de autoeficácia (a crença sobre a própria capacidade de concluir uma tarefa ou resolver um problema) podem atenuar este fenómeno problemático, mas comum na educação.
Vários estudos sobre a procrastinação académica revelam a existência de uma falha na aprendizagem da autorregulação - isto é, da capacidade do jovem para direcionar o seu comportamento e controlar os impulsos com a finalidade de cumprir objetivos. A protelação das tarefas escolares tem sido relacionada com o desenvolvimento do cérebro adolescente, não se tratando simplesmente de uma atitude de preguiça ou esquecimento. A boa notícia é que também é na adolescência que essa falha pode ser resolvida, dada a janela de oportunidade no desenvolvimento das capacidades executivas e de planeamento, uma vez que dependem principalmente do córtex pré-frontal (uma zona do cérebro que não atinge a maturação antes dos 20 anos).
Este comportamento é igualmente visto como uma máscara psicológica, explicada pela tentativa de isolar as repercussões do fracasso na autoestima - atribuindo as suas causas a um erro de estratégia e não à falta de capacidade.
O foco na estratégia permite transferir a culpa pelos maus resultados para fatores externos. E, independentemente do resultado, a autoestima parecerá sempre intacta. Se falhar pela questão do prazo, o aluno pensará que "se não tivesse esperado até o último minuto, teria feito muito melhor". Mas se, por outro lado, conseguir ser bem-sucedido, os sentimentos de valor próprio aumentam, porque os resultados desejados foram alcançados, apesar de ter adiado a tarefa ao máximo.
Martin Covington, conhecido como o arquiteto da teoria do valor próprio, afirmava que é da nossa natureza estarmos dispostos a "suportar as dores da culpa, em vez da humilhação da incompetência". Aliando esta tendência humana à fase de desenvolvimento com maior peso no processo de construção da identidade, não é de estranhar que este seja um comportamento comum nos adolescentes e que os mais seguros quanto à sua identidade sejam assim menos propensos à procrastinação.
O que podem fazer os professores? Aqui ficam algumas recomendações importantes, resultantes da investigação recente.
1. Fasear prazos. Em vez de propor um projeto com um único prazo, pode ser útil dividi-lo em várias tarefas com prazos uniformemente espaçados e potencialmente menos intimidatórios. Por exemplo, pedir vários rascunhos de um trabalho ou pedir que apresentem o seu progresso em pontos de verificação previamente especificados.
2. Monitorizar e dar feedback. Os alunos, especialmente aqueles que têm fragilidades na autoestima, podem resistir a apresentar um bom trabalho se estiverem preocupados com críticas ou com o receio de falhar. Devemos acompanhá-los, mas evitar dar um feedback excessivamente crítico, ou negativo, especialmente em frente aos colegas.
3. Ensinar estratégias de gestão do tempo de estudo. Muitos alunos ainda não desenvolveram as capacidades metacognitivas de que precisam para poder estudar com eficácia e perdem-se facilmente em ações simples, tais como agendar no seu dia tempo suficiente para estudar.
4. Estar atento à carga de trabalho. A probabilidade de os alunos se atrasarem aumenta quando os prazos para diferentes trabalhos coincidem. Os alunos também experimentam níveis mais altos de ansiedade quando não conseguem gerir várias tarefas que são pedidas ao mesmo tempo. É importante que os professores sejam realistas e se coordenem, para que seja exequível o cumprimento dos vários prazos por parte dos alunos.
5. Dar instruções e exemplos claros. É mais provável que os alunos adiem um trabalho se não entenderem claramente como começar. Logo, é importante verificar se todos os alunos conhecem os requisitos da tarefa, sendo mais seguro colocar as instruções por escrito para que possam consultá-las sempre que necessário.
Neuropsicóloga, investigadora da Universidade Católica Portuguesa e colaboradora regular do programa de informação pública da Iniciativa Educação, cujos artigos são neste mês publicados numa parceria com o DN.