Adoção internacional

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Há o célebre caso de Torres Couto, antigo secretário-geral da UGT, que a um filho biológico somou, por adoção, um do Brasil, um de Cabo Verde e um da China. E depois muitas famílias anónimas que acolheram crianças vindas de países como a Guiné-Bissau ou Tunísia, procurando através da adoção internacional vias mais rápidas que a nacional para conseguirem realizar o sonho de ter um filho.

Foram adotadas 87 crianças estrangeiras desde 2000, o que significa que o processo é complexo. Apesar de ser, em geral, mais rápida e acessível a famílias que dificilmente cumpririam os critérios nacionais (ter já um ou mais filhos, idade avançada, etc.), existem custos acrescidos e a necessidade de lidar com legislação de outros países. Há ainda a questão da etnicidade, que constituirá um desafio, em certas situações, para a criança à medida que esta cresce num contexto cultural distinto do de origem e que deve ser bem ponderado no momento da decisão.

Apesar de todos os constrangimentos, é tentador pensar na adoção internacional para apressar a resolução de situações. E tendo em conta que em Portugal estão em lista de espera cerca de 2500 candidatos a adotar para apenas 652 crianças adotáveis percebe-se que essa tendência possa crescer. Contudo, há ao mesmo tempo que otimizar o desempenho do nosso sistema nacional, para que não se perpetuem situações em que havendo quem queira ser pai ou mãe e quem precise de ter uma família o encontro entre as suas vontades tarde a acontecer.

Moscovo e Pequim

Sem surpresa, uma proposta de resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando o referendo de autodeterminação da Crimeia que hoje se realiza foi vetado pela Rússia. Mas é relevante a posição da China, outro dos cinco membros permanentes (num órgão com 15 assentos) ao optar pela abstenção. É que se Pequim tem mostrado compreensão pelas preocupações de Moscovo em relação à recente mudança de regime na Ucrânia, vista como promovida pelos Estados Unidos e seus aliados europeus, não deixa de se preocupar com o possível impacte de projetos secessionistas ou de alterações de traçados fronteiriços.

Sobretudo, para os líderes chineses, não há necessidade de haver exemplos que possam ser utilizados como argumento pelos separatistas do Tibete ou do Xinjiang ou mesmo por aqueles em Taiwan que, ao contrário dos atuais governantes, recusam o ideal de reunificação chinesa.

Portanto, se Moscovo e Pequim partilham certa visão das relações internacionais - e Xi Jinping fez a sua primeira visita como Presidente à Rússia -, isso não significa concordância absoluta em todas as matérias. O desafio a um mundo unipolar dominado pelos Estados Unidos não chega para construir uma aliança férrea, tal como nos tempos da Guerra Fria o ideal comunista não chegou para manter União Soviética e República Popular da China do mesmo lado da barricada. O xadrez global é complicado e cada potência pensa primeiro nas suas prioridades.

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