Adiamento da gravidez aumenta necessidade de resposta clínica
Em 2016, no mesmo ano em que a procriação medicamente assistida (PMA) foi alargada a todas as mulheres, 3% dos bebés nascidos em Portugal resultaram de técnicas de PMA e de fertilidade. É um setor em franca expansão num país que tem sofrido muito os efeitos da inversão da curva demográfica, com a idade das mães ao primeiro filho a subir para quase 31 anos - atrasou-se cinco anos na última década - e a taxa de natalidade em queda livre desde os anos 2000. Por ano, nascem em Portugal aproximadamente 80 mil crianças - é, com Itália e Grécia, o país com menos crianças por mulher, aquém dos 1,5 filhos. E a idade em que as mulheres decidem ser mães contribui para esse baixo valor. O que também tem feito aumentar o número de pessoas a recorrer a técnicas de PMA, impulsionando as clínicas a operar em Portugal.
"O adiamento da gravidez é um dos fatores que torna cada vez mais necessária uma resposta clínica para a concretização do projeto de parentalidade", explica ao DN o diretor-geral da Eugin Portugal, Fernando Mendes da Silva, que nesta semana anuncia a sua chegada a Portugal. A primeira unidade clínica do grupo dedicado à PMA e tratamentos de fertilidade é apresentada amanhã, em Coimbra, e o executivo não tem dúvidas quanto ao seu papel no panorama da PMA no nosso país Portugal.
"As famílias são cada vez mais diversas, com singularidades a que é preciso conseguir dar respostas", diz o diretor-geral, acreditando que a Eugin tem características que lhe permitem enfrentar todos esses desafios. Desde logo pelo "investimento considerável que tem sido feito em investigação e disseminação do conhecimento científico na área da medicina da reprodução", cujos resultados estão à vista, garantindo aquilo que Fernando Mendes da Silva define, em declarações ao DN, como "um atestado de credibilidade". E que é reforçado pela coordenadora científica escolhida para o projeto, a médica ginecologista e subespecialista em Medicina da Reprodução Teresa Almeida Santos. "Trata-se de uma pessoa com três décadas de experiência e reconhecida competência na área, cujo prestígio internacional permite a viabilidade do projeto", defende o responsável, explicando que o grupo vê em Portugal um "destino estratégico de expansão" e encontrou em Coimbra "o ambiente adequado para iniciar este projeto", dado tratar-se de uma cidade "com forte ligação à saúde e com profissionais bem preparados nesta área".
O setor da PMA e fertilidade encontra-se em fase de crescimento no nosso país. De acordo com a Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e Ginecologia, todos os anos são realizados aqui cerca de 9800 tratamentos nas 25 instituições nacionais - oito delas com uma presença importante nesta área - e dois grupos internacionais a operar em Portugal. A que agora se somará a equipa multidisciplinar da Eugin, com especial foco na investigação e cujos números de atividade impressionam - desde logo pelos cerca de 45 mil tratamentos realizados anualmente nos seus diferentes centros.
"Além da equipa médica e de enfermagem, contamos aqui com duas embriologistas seniores, uma psicóloga e uma geneticista, que, para além da prática clínica, têm também uma forte componente de investigação nos seus currículos", precisa Fernando Mendes da Silva, lembrando o track record do grupo, que opera neste momento "69 centros em 11 países e nos seus 25 anos de existência já contribuiu para o nascimento de 265 mil bebés". A empresa é ainda parte ativa em sociedades de fertilidade nacionais e internacionais e codirige, com a BSM-UPF (Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona), o mestrado internacional em Técnicas de Reprodução Humana Assistida.
Em Portugal, o responsável quer impactar todos os que não encontram resposta no Serviço Nacional de Saúde, quer pela idade, quer por terem esgotado o número de tratamentos previstos, quer ainda "por preferirem uma resposta mais célere e personalizada", diz, garantindo "diferentes propostas de tratamento, que são discutidas e adaptadas às expectativas dos pacientes", de forma a melhor responder às especificidades de cada caso.
A confiança no êxito, apesar de as taxas de sucesso nos tratamentos de PMA "serem extremamente variáveis" - acompanhando os custos -, leva o CEO do grupo catalão, Eduardo González, a olhar para Coimbra apenas como um primeiro passo no crescimento ibérico. "Portugal é um enclave estratégico" para a expansão da Eugin e após a unidade de Coimbra, "equipada com a mais recente tecnologia e onde se vão aplicar inovadoras práticas assistenciais", o grupo já tomou a decisão de "expandir a presença no país", confirma o CEO.
Desde o nascimento da primeira criança por fertilização in vitro em Portugal, a 25 de julho de 1978, a PMA tem dado saltos de cavalo, com o país a subir a um patamar técnico-científico semelhante ao dos países mais desenvolvidos, segundo o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida. A evolução da lei portuguesa, abrindo a qualquer mulher a possibilidade de recorrer à PMA, independentemente do estado civil e do diagnóstico de infertilidade, deu um empurrão à abertura de clínicas e propagação de soluções.
Mas ainda há barreiras fisiológicas - a idade máxima para uma mulher recorrer à PMA são os 50 anos, porém os tratamentos só são cobertos pelo Estado até aos 40 anos, dada a redução da taxa de sucesso após essa idade - e, naturalmente, financeiras.
"Os custos dos tratamentos, tal como as taxas de sucesso, são muito variáveis, dependendo de cada situação que está em causa", explica ao DN o diretor-geral da Eugin Portugal. Consultando os preçários online das diferentes clínicas com propostas de PMA em Portugal, consegue-se chegar, ainda assim, a um cálculo do valor médio. Um tratamento completo, incluindo inseminação artificial e respetivos ciclos de fertilização in vitro - é genericamente consensual que depois de quatro transferências de embriões sem êxito a probabilidade de tratamentos adicionais resultarem em gravidez é muito reduzida, pelo que três tentativas são o máximo considerado razoável -, implica um investimento que poderá rondar os seis a oito mil euros. O custo é influenciado não apenas pelos ciclos de tratamento necessários até ser bem-sucedida, como pelo material genético exigido nos mesmos - a maioria das mulheres que engravida após os 45 anos, por exemplo, número que tem vindo a crescer, por razões óbvias, nas clínicas de PMA, precisa de recorrer a óvulos doados.