Adeus de Fidel: "A vez chega a todos, mas ficam as ideias"

Líder histórico da revolução, à beira dos 90 anos, falou no fecho do congresso do Partido Comunista, do qual o irmão foi reeleito líder
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Não foram os discursos de horas de outrora, mas foram quase dez minutos nos quais o histórico líder da revolução cubana, que fará 90 anos a 13 de agosto, não hesitou em falar da morte. "Talvez seja a última vez que falo nesta sala", disse Fidel Castro na cerimónia de encerramento do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC). "Em breve serei como todos os outros. A vez chega a todos, mas ficam as ideias dos comunistas cubanos", afirmou ao lado do irmão, Raúl Castro, que há dez anos assumiu a presidência da ilha depois de Fidel ser obrigado a afastar-se por questões de saúde.

"Em breve vou fazer 90 anos, isso nunca me tinha passado pela cabeça e não foi fruto de um esforço, foi capricho da sorte. Em breve serei como todos os outros. A vez chega a todos, mas ficam as ideias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se se trabalha com fervor e dignidade, se podem produzir os bens materiais e culturais de que os seres humanos precisam e devemos lutar sem trégua para os obter", disse Fidel, naquela que foi a sua mais longa intervenção pública desde que abdicou do poder a 31 de julho de 2006.

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Vestido com um casaco de fato de treino azul, o ex-líder cubano discursou pausadamente, com a voz rouca, sendo aplaudido quando felicitou todos os candidatos eleitos no congresso do PCC ,"em primeiro lugar o companheiro Raúl Castro, pelo seu magnífico esforço". No final, foi ovacionado pelos mais de mil delegados, depois de ter lembrado que o facto de terem sido escolhidos pelo "povo revolucionário" é "a maior honra que receberam na vida". O histórico líder da revolução de 1959 exortou todos os presentes a transmitir ao mundo que "o povo cubano vencerá".

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No VII Congresso do PCC, Raúl Castro foi reeleito secretário-geral por mais cinco anos. O que significa que poderá liderar o partido para lá do prazo que ele próprio estabeleceu para deixar a presidência do país - 2018. O número dois do PCC, Ramón Machado Ventura, que lutou ao lado de Fidel, também foi reeleito apesar dos seus 85 anos e de uma das novidades estabelecidas no congresso: um limite de idade para ser eleito para o Comité Central (60 anos) e para o Bureau Político (70 anos).

"Pela inexorável lei da vida, este VII Congresso será o último dirigido pela geração histórica, que entregará aos pinheiros novos [referência a um discurso de José Martí, o herói da independência, para falar das novas gerações] as bandeiras da Revolução e o socialismo", disse Raúl no discurso de encerramento. Uma entrega, acrescentou, "sem o menor indício de tristeza ou pessimismo e com o orgulho do dever cumprido".

Entre as novas gerações está Miguel Díaz-Canel, de 55 anos, que como primeiro vice-presidente de Cuba é visto como o eventual sucessor de Raúl Castro. Foi reeleito para o poderoso Bureau Político, que passa a ter 17 membros (em vez de 14). Mercedes López, primeira secretária do PCC em Havana, deixa de ser o único rosto feminino no órgão diretivo, com a eleição de mais três mulheres.

Raúl agradeceu a "honra" de ser reeleito para a liderança do partido, "com a certeza de que a minha missão principal é defender, preservar e continuar a aperfeiçoar o socialismo cubano e não permitir nunca o regresso ao capitalismo". Sob a sua presidência, foram empreendidas reformas económicas e uma aproximação aos EUA, que teve o momento mais alto na visita a Cuba do presidente norte-americano, Barack Obama, a primeira em 88 anos.

[citacao:Vamos introduzir as mudanças necessárias, sem pressa ou improviso, que apenas levariam ao falhanço"]

O congresso apoiou o plano de "atualização socialista", que já está a ser aplicado há cinco anos, e prevê uma maior abertura aos investimentos estrangeiros e o crescimento do setor privado com mais pequenas empresas, mas Raúl deixou claro que as mudanças não serão apressadas. "Vamos introduzir as mudanças necessárias, sem pressa ou improviso, que apenas levariam ao falhanço", explicou. Até agora, só cerca de um quinto das reformas planeadas foram aplicadas.

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