Adesão da Turquia testará verdadeira vocação da UE

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Em sua opinião, que razões justificam a entrada da Turquia na União Europeia?

A primeira reside no facto de a Turquia ter pedido a sua adesão à Uni- ão Europeia há mais de 40 anos. Por outro lado, a relação entre a Europa e a Turquia tem raízes profundas e antigas: a Turquia faz parte de todas as grandes organizações europeias; é membro da NATO, do Conselho da Europa e da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Os chefes de Estado e de Governo da UE, tanto em 1999 como em 2000, concordaram em aceitar a candidatura de Ancara logo que fossem comprovados os princípios de Copenhaga. E, no passado dia 6 de Outubro, a Comissão aceitou que a Turquia correspondia aos critérios de Copenhaga. Agora é uma questão de credibilidade da palavra dada.

O que provocou, nos últimos dois anos, uma certa mudança e até mesmo algumas dúvidas por parte de países que, inicialmente, eram a favor da adesão turca?

Para mim, existe sobretudo uma razão puramente política pela qual a Turquia deve integrar a UE. E se a Europa considerou, a nível regional e internacional, que a Turquia era um membro credível, não pode dois anos depois mudar de ideias.

A que razão política se refere?

A relação da Europa com o mundo muçulmano não se limita à área económica; é também uma relação política. Por isso, apoiar os esforços de progresso democrático e de estabilidade na Turquia constitui sem dúvida uma das iniciativas mais dinâmicas e úteis da política. Como quando se decidiu o alargamento aos dez países. A entrada da Turquia é um teste muito importante sobre a verdadeira vocação política da UE.

À parte os problemas ainda existentes sobre os direitos humanos, quais são as novas resistências na Europa?

Por um lado, a oposição é sempre a mesma: a Turquia não é um país europeu, no sentido em que a identidade europeia tem raízes culturais cristãs. Discordo totalmente. Não só porque na Europa de hoje existem, misturados já com católicos e protestantes, 15 milhões de muçulmanos, mas também porque a nossa identidade não é só cristã. Sócrates, Heródoto e Averróis não são, certamente, cristãos.

Por outro lado...

O temor de abrir as portas a 80 milhões de muçulmanos, sobretudo quando na Europa se faz muita confusão ente o Islão como religião e o islamismo político, extremista e fanático.

A entrada da Turquia poderá ser um passo no processo de paz para o Médio Oriente?

Em absoluto. As negociações do processo de adesão serão longas; vão durar, como aconteceu com os outros países, pelo menos dez anos. Mas a Turquia, por razões linguísticas e também políticas, poderá ser um novo e muito eficaz elemento nas relações da Europa com os países do Médio Oriente, da Ásia e do Cáucaso. A Turquia terá, portanto, um papel político acrescido para a Europa, a quem dará maior capacidade de diálogo com as zonas que referi e que, hoje, causam grande preocupação à UE.

Medo de novos imigrantes a invadirem a Europa?

Existe a resistência de quem teme que os imigrantes turcos invadam a Europa. A mesma preocupação existiu quando se tratou da adesão de Espanha e Portugal; e, afinal, não se verificou qualquer invasão de imigrantes desses países. É preciso reconhecer que a economia turca hoje é mais dinâmica do que eram as de Espanha e de Portugal.

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