Acusações de corrupção abalam Carnaval do Rio

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"Quero meu Brasil/ Jogando limpo.../ O povo dando um xeque na corrupção/ Um xeque na impunidade/ E a bateria sacudindo a multidão." Foi com este Xeque-Mate que a Gaviões da Fiel (a escola de samba da torcida do Corinthians) venceu o desfile de Carnaval de São Paulo, em 2002. Contudo, no mais famoso Carnaval do Rio de Janeiro, a corrupção parece ter passado do samba-enredo para os bastidores do sambódromo.

Segundo um relatório da Polícia Federal, os jurados do concurso deste ano foram subornados para votar na Beija-Flor de Nilópolis, a campeã do desfile de 2007. Aqueles que recusaram foram ameaçados de morte por um "pistoleiro" alegadamente contratado pelo presidente honorário da escola, Aniz Abrahão David. Anísio da Beija-Flor, como é mais conhecido, é um dos líderes da "mafia dos Bingos", a organização criminosa desmantelada na operação Furacão, em Abril.

O outro "cérebro" da operação é o antigo presidente da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), Ailton Guimarães. Os últimos desenvolvimentos deste caso foram as escutas telefónicas divulgadas pela imprensa brasileira, nomeadamente a que envolve o advogado Júlio Cesar Sobreira (responsável pela escolha dos jurados e sobrinho de Guimarães) e Jacqueline Conceição Silva, espécie de contabilista do esquema.

Na gravação ouve-se Sobreira a pedir que seja entregue "um kit" a um dos jurados, cujo nome não é identificado pela Polícia Federal. O advogado considera "absurda" a acusação e indicou que o kit incluía apenas T-shirts com a palavra "Jurado" e as regras do concurso.

A alegada corrupção no Carnaval está a ser investigada não só pela polícia mas também por uma comissão de inquérito de vereadores da câmara do Rio de Janeiro. A presidente da comissão, Teresa Bergher, indicou contudo que a investigação pode recuar a outros anos. Desde 2000, a Beija-Flor já foi por três vezes vice-campeã e por quatro vezes a vencedora, ficando fora do pódio apenas no ano passado.

O Carnaval do Rio de Janeiro é hoje um negócio que vale milhões e não apenas uma festa popular. Na sua homenagem a África, a escola de samba da Beija-Flor fez em 2007 um investimento de sete milhões de reais (2,7 milhões de euros). No total, as 13 escolas de samba do grupo especial (uma espécie de primeira divisão) terão gasto 21,5 milhões de euros. Os custos de cada bilhete para os dias de desfile variam entre os 150 e os 400 euros. Em 2006, foi também aberta a "Cidade do Samba", onde se podem visitar as oficinas das escolas. |

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