Açores: PS quer quinta maioria absoluta. PSD tenta poder 20 anos depois
Quarenta anos depois do primeiro ato eleitoral livre na Região, os açorianos vão decidir se querem continuar a ser governados pelos socialistas, no poder há 20 anos, ou pelos sociais-democratas que depois de Mota Amaral nunca mais conseguiram destronar o PS.
Vasco Cordeiro, atual presidente do governo regional dos Açores e líder dos socialistas açorianos, a quem os críticos acusam de ter recebido o partido numa bandeja de prata servida por Carlos César, tem agora a oportunidade de provar que este PS-Açores é dele e distanciar-se em definitivo da sombra de César. Para isso, Cordeiro para além de procurar vencer as eleições, marcadas paras o próximo dia 16, tem que conseguir uma maioria absoluta e evitar ter que negociar com quem quer que seja para poder formar governo. O que, a avaliar pela sondagem publicada hoje no Açoriano Oriental e que dá larga vantagem aos socialistas, parece estar ao seu alcance.
Na mente dos socialistas estarão as regionais de 2004, o ano de ouro da geração César, em que o PS obteve 57 por cento dos votos e 31 dos 52 mandatos para a Assembleia Legislativa Regional dos Açores. Se Vasco Cordeiro conseguir ultrapassar ou, no mínimo, igualar essa fasquia terá o partido na mão, sem hesitações nem dúvidas. Pelo contrário, um resultado que não se traduza por uma maioria absoluta poderá despertar vozes que até agora se têm mantido estrategicamente caladas ou pouco faladoras.
Há um dado importante a reter: a sondagem acima referida indica claramente que o PS não só consegue manter o seu eleitorado tradicional como vai buscar votos à direita e em concreto ao PSD. Um cenário que complica ainda mais a tarefa do atual líder social-democrata, o picoense Duarte Freitas que tem pela frente a difícil tarefa de conseguir o que, desde que Mota Amaral deixou a liderança do partido, nunca ninguém conseguiu, nem Victor Cruz, nem Berta Cabral, dois dos líderes sociais-democratas que ambicionaram e falharam a conquista do poder político na Região.
A Duarte Freitas o partido pede nada menos do que a vitória que já lhes foge há duas décadas.
Freitas renovou o partido e com isso terá ganho novos aliados, mas também criado novos inimigos internos de peso, desde logo Mota Amaral que não parece ter perdoado a forma como foi afastado do PSD-Açores.
Fora da corrida pela maioria surgem quatro partidos que ambicionam reforçar a sua representação parlamentar e apostam as fichas todas na perda de maioria absoluta do PS, dando de barato que serão os socialistas a vencer estas eleições.
Neste cenário, em que o PS vence mas sem conseguir a maioria dos deputados na Assembleia Legislativa Regional dos Açores, o partido que poderá ter papel decisivo e alavancar um futuro governo socialista é o CDS-PP liderado pelo terceirense Artur Lima.
Por diversas vezes o centrista Lima tem relembrado as eleições de 1996 em que Carlos César venceu pela primeira vez, mas sem maioria absoluta, e foi justamente o CDS, na altura liderado por outro terceirense, Alvarino Pinheiro, que deu a mão a César. Foi, dizem os partidos da oposição em geral, o melhor governo de sempre nos Açores porque sem maioria absoluta puderam fazer passar propostas que, caso contrário, teriam sido chumbadas pela maioria parlamentar.
Contudo a vida do CDS-PP nos Açores não se afigura fácil com a liderança de Lima a ser fortemente contestada em São Miguel. Aliás, os micaelenses acusam o líder Popular de bairrismo em prol da ilha Terceira. Não será assim de estranhar que o CDS-PP perca alguma dimensão eleitoral na próxima legislatura.
À margem desta equação do poder mas com a secreta esperança de ver nascer uma geringonça açoriana estão o Bloco de Esquerda de Zuraida Soares e a CDU de Aníbal Pires, à semelhança do que aconteceu com António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.
Conhecendo a relação de Vasco Cordeiro com Zuraida Soares afigura-se como pouco provável um entendimento entre PS e Bloco de Esquerda. Já um acordo com os comunistas açorianos, ainda que improvável, teria mais pernas para ziguezaguear.
Na cauda dos principais partidos concorrentes às regionais aparece o PPM de Paulo Estêvão. O homem da ilha do Corvo já deu sinais de estar disponível para se aliar aos socialistas mas, para isso, vai ter primeiro que ser eleito, tarefa que não se afigura fácil. Se não for eleito, o monárquico irá abandonar a liderança nacional do partido e resguardar-se da vida política ativa.
Todos estes cenários ruirão como um castelo de cartas a confirmarem-se os resultados da sondagem da Norma-Açores para o Açoriano Oriental, que dão maioria absoluta aos socialistas açorianos e atiram o PSD para um resultado negativo de proporções históricas.
Diretor do Acoriano Oriental