Acordo de comércio livre UE-Vietname gera "grande potencial" para Portugal -- AICEP
O acordo, que deve ser aprovado este ano, eliminará mais de 99% de todos os direitos aduaneiros e suprimirá parcialmente os restantes.
"Julgo que há um grande potencial para as nossas empresas", disse à agência Lusa o delegado da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal para o sudeste asiático, Pedro Aires de Abreu.
"O acordo está definido e está no bom caminho, e esperamos que seja assinado em breve", afirmou.
Peças para automóveis, produtos farmacêuticos, tecidos têxteis, vinhos ou carne de porco são alguns dos produtos abrangidos pelos acordo e que podem beneficiar as empresas portuguesas, afirmou o delegado.
Sérgio Pereira da Silva, presidente da Câmara de Comércio Portugal-Vietname, lembrou que o "grande entrave" é a ala mais à esquerda no Parlamento Europeu, que "não quer" um acordo de comércio livre com o Vietname, devido ao historial de violações dos direitos humanos no país.
O arquiteto e empresário, que vive há oito anos na cidade de Ho Chi Minh, sul do Vietname, recordou, no entanto, que o acordo prevê também "exportar os direitos que a UE defende".
"Isso é muito importante: porque ninguém vai fazer negócios onde existem fábricas com crianças a produzir. E se eles quiserem fazer negócios terão que assimilar esses valores europeus", disse.
Com a saída dos Estados Unidos do acordo de Associação Transpacífico (TPP), que engloba o Vietname e mais 10 países, a Europa tem uma "excelente oportunidade" para se "pôr um bocado mais à frente", defendeu o empresário.
Em 2017, o comércio entre Portugal e o Vietname fixou-se em quase 300 milhões de euros, com um défice de 240 milhões de euros para Lisboa.
No âmbito do investimento, os 'vistos gold' têm suscitado crescente interesse no Vietname: em 2018, o país asiático substituiu a Rússia no 'top' 5 de verbas captadas pelo programa -- 28,2 milhões de euros, resultantes de 55 vistos atribuídos, segundo dados disponibilizados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
Mas apenas três empresas com capital português estão presentes no Vietname: a fabricante de embalagens Logoplaste; o atelier português de arquitetura Saraiva+Associados; e a CJR (Cândido José Rodrigues), da área das energias renováveis.
"A classe média vietnamita cresce de forma progressiva", afirmou Pedro Aires de Abreu.
"Todas as empresas que tenham produtos com alguma qualidade, na área dos bens de consumo, têm grande potencialidade para vir para o mercado", acrescentou.
O delegado da AICEP considerou ainda o mercado vietnamita "bastante aberto", comparado a alguns países vizinhos.
A união do Vietname numa nação com 95 milhões de pessoas, após a Segunda Guerra da Indochina, e a abertura, em meados dos anos 1980, à iniciativa privada, rompendo com a ortodoxia comunista, permitiram grandes transformações económicas e sociais.
Em 2018, a economia vietnamita cresceu 7%, impulsionada por um aumento de dois dígitos na produção industrial, e consta hoje entre as 50 maiores economias do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) fixado nos 209 mil milhões de euros.
Esta semana, aproveitando a presença de quase três mil jornalistas estrangeiros em Hanói, para cobrir a cimeira Estados Unidos - Coreia do Norte, as autoridades esforçaram-se para polir a imagem do país, com ofertas de visitas guiadas pelo Norte e apelos aos locais para darem uma boa imagem.
Numa mensagem no portal oficial do Governo, o presidente da câmara de Hanói, Nguyen Duc Chung, apelou à população para que "mantenha o código de comportamento e eleve a imagem dos vietnamitas como civilizados, elegantes, hospitaleiros e amigáveis perante os amigos da imprensa internacional".
Nguyen apelou ainda aos empresários para que evitassem especular com os preços de bens e serviços durante a cimeira.
"Esta é a melhor oportunidade para divulgar a cultura, desenvolvimento e a imagem do Vietname e da capital, Hanói, perante a comunidade internacional", notou.