O acordo não está fechado mas "está assegurado", deverá ser assinado "nos próximos dias", e isso permite evitar a falência", com o empréstimo de até 1,2 mil milhões a poder entrar na TAP. O Governo conseguiu assegurar os 72,5% da transportadora - comprando por 55 milhões a saída de Neeleman e sua renúncia à conversão do empréstimo da Azul em capital em 2026 - e desta vez assegurando que poderá influenciar o futuro da companhia e decidir sobre o empréstimo que entra na TAP. Com os quase três quartos de capital - fica Humberto Pedrosa com os 22,5% que detinha e os trabalhadores mantêm os 5% - o Estado assume agora essa fatia de 72,5% também em direitos económicos e de voto..Catorze vezes mais do que custou a reversão da privatização. É o preço da fatia de David Neeleman na TAP. Há quatro anos, o governo de António Costa pagou 1,9 milhões para recuperar do consórcio Atlantic Gateway os 11% que asseguravam a maioria do Estado no capital da companhia. Agora, o preço da aquisição dos 22,5% do empresário amero-brasileiro fixa-se nos 55 milhões de euros..O que justifica a disparidade?.Não se pode fazer uma transposição direta: o que está em causa, mais do que uma fatia do capital, é a recuperação de poder na gestão da transportadora. Além de uma cláusula muito particular inscrita no contrato de reversão. Quando compraram 61% da transportadora, Neeleman e Pedrosa pagaram 354 milhões, mas o Estado encaixou apenas 10 milhões - o resto serviu para fazer face à situação de grave descapitalização em que a transportadora se encontrava e dar vida ao pano de renovação e expansão traçado..Nesse contrato de 2015, o Estado detinha 35% dos direitos económicos da empresa: era essa a proporção do poder estatal (e das responsabilidades públicas) na TAP. Um par de meses depois, porém, a maioria do capital voltava para as mãos do Estado, que recomprava 11% por um preço muito favorável de 1,9 milhões. Acontece que o contrato de reversão da privatização, que António Costa assinou em fevereiro de 2016, trazia condições. E uma delas era a redução brutal do poder do Estado na transportadora, de 35% para 5% dos direitos económicos. Ou seja, enquanto as responsabilidades públicas aumentaram na proporção da participação (50%), a capacidade de intervir na gestão ficou reduzida a quase nada..Recuperar os 22,5% da TAP - a metade de Neeleman no consórcio Atlantic Gateway, que conta ainda com Humberto Pedrosa - equivale sobretudo a recuperar poder de decisão, fundamental num momento em que o Estado se prepara para injetar 1,2 mil milhões de euros dos cofres públicos na transportadora. Há ainda a questão da cláusula que mereceu alertas do Tribunal de Contas - e que Costa queria agora anular. O contrato de reversão determinava que se o Estado tomasse uma posição maior na TAP teria de devolver 117 milhões correspondentes a investimento dos privados na companhia (a repartir pelos dois membros do consórcio). Terá sido esse um fator essencial para determinar o preço da saída de Neeleman..Reestruturação inevitável.O Estado passa a mandar na TAP, para o que contratará, através de uma empresa especializada, "uma equipa de gestão profissional e experiente na aviação", sublinhou o ministro das Infraestruturas. "Não há razão para que o Estado escolha de forma diferente dos privados." E será a essa equipa que caberá fazer a reestruturação da companhia, que Pedro Nuno Santos já admite como inevitável: "Queremos uma TAP viável, a servir necessidades do país. A reestruturação não tem de ser um ponto negativo, será estratégica e o futuro determinará de que tamanho fica a companhia", disse, assumindo porém que "não queremos uma TAP sobredimensionada, porque estaríamos a desperdiçar recursos"..A mudança passará, portanto, por um redimensionamento que cortará aviões e rotas à companhia, mantendo "uma empresa que sirva os interesses dos portugueses" e assegure o hub em Lisboa. Pedro Nuno Santos rejeita falar na "inevitabilidade de despedimentos", mas esse será necessariamente um passo a dar numa TAP encolhida. O ministro prefere realçar que o Governo quis assegurar a "salvação" da transportadora, admitindo agora que "ninguém queria a nacionalização", mas "foi importante para conseguirmos chegar a acordo que esse cenário estivesse em cima da mesa"..Antonoaldo Neves sai já.Pedro Nuno Santos confirmou a "saída imediata" do CEO Antonoaldo Neves, mas não adianta quem irá substituí-lo já. O ministro das Infraestruturas sublinha, porém, que essa será a única saída imediata, sendo nomeada uma equipa transitória. A gestão da TAP será substituída, mas a prazo, com Pedro Nuno Santos a explicar que sairá de "um processo de seleção internacional", como é prática "nas empresas privadas".."TAP não contará para contas públicas".O empréstimo de até 1,2 mil milhões vai pesar no bolso dos contribuintes, mas daí em diante as contas da TAP "só residualmente" contarão para a dívida e o défice. A certeza foi dada pelo ministro das Finanças, João Leão, que explicou que "há muitas empresas estatais que não estão no perímetro das contas públicas" - caso da Carris, da Águas de Portugal e dos portos. "São empresas que, como a TAP, S.A. (a transportadora), têm natureza mercantil." Assume, porém, que o grupo TAP (SGPS) poderá ter um efeito na dívida e no défice, "mas será um impacto residual"..O acordo.O Governo português chegou assim a acordo para comprar a participação de David Neeleman, no consórcio Atlantic Gateway por 55 milhões de euros, tal como tem vindo a ser noticiado nos últimos dias. A operação foi decidida no baixar do pano. E o acordo está terminado faltando apenas acertar pequenos detalhes. O empréstimo de 1,2 mil milhões de euros pode chegar entretanto à TAP. Nos próximos dias, e após a formalização de algumas questões, uma tranche de 250 milhões entrará nos cofres da transportadora aérea..Numa conferência de imprensa esperada desde quarta-feira e que só aconteceu depois das 22.00 de ontem, os governantes quiseram contar a história de uma negociação dura e dos passos que levaram por fim ao acordo num contexto particularmente difícil. "A pandemia afetou de forma negativa a aviação e as companhias aéreas. A atividade prosseguida pela TAP é estratégia para o País", começou por assinalar o ministro de Estado e das Finanças, João Leão. "O Estado junto da Comissão Europeia analisou e discutiu para conceder um auxílio de Estado. A operação foi concedida a 10 de junho. Foi proposto um acordo com um conjunto de condições, que não foram aceitas pelos privados, bloqueando o empréstimo", disse ainda..Recordando o peso desta que é uma das maiores exportadoras nacionais (2,8 mil milhões), a companhia que mais turistas traz para Portugal, e que gera mais de 10 mil postos de trabalho diretos a que se somam outros 100 mil e indiretos, o ministro das Infraestruturas justificou a necessidade de salvar "uma empresa de importância crítica para o país", numa altura em que os portugueses sofrem os efeitos brutais da crise internacional..Pedro Nuno Santos juntou-se à versão do Governo de uma semana atribulada, garantindo que "a opção alcançada não era a inicial". "Fizemos uma proposta aos privados que não foi aceite na totalidade. Tínhamos um acordo com a Comissão Europeia, mas para essa injeção faltava acordo com os privados", frisou, explicando que o Governo queria que os parceiros privados participassem no esforço de capitalização da empresa e prescindissem das cláusulas previstas na reversão mas que deixavam o Governo em maus lençóis num momento em que a TAP precisa de injeção imediata de capital e Bruxelas só a permitiu na versão mais dura e exigente.."A opção a que chegamos com a Comissão Europeia, e que é um cenário de emergência e reestruturação, é a opção que estava disponível para a TAP.".Jornalistas do Dinheiro Vivo.notícia atualizada às 08.30