Acordar campeão

No campeonato das comemorações só as Festas de Lisboa ganham ao Benfica: 4 a 1. Adeptos deixam 1 tonelada de lixo no Marquês
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Nenhum benfiquista confessa que teve medo de perder o título na jornada final e, ao acordar da noite da festa do título, já só pensava na próxima época e fazia votos para que Jesus fosse outra vez abençoado. Ou seja, foi um despertar assumidamente de campeão.

Maria do Carmo valeu-se da pequena estátua fosforescente da N. Sra. de Fátima que tem em casa para ajudar o SLB a vencer o Rio Ave. Nunca duvidou de que a águia Vitória não tivesse motivos para fazer uma noitada no autocarro dos craques, mas só viu o jogo aos bocados, enquanto aproveitava para tratar da horta. Situação que não retira valor ao seu clubismo: "Fui sempre amante do Benfica." Mesmo com a certeza de que lhe caberia varrer o lixo deixado pelos adeptos, só desejava que se confirmasse a tarefa de integrar a equipa que ontem de manhã cedo tomou conta da recolha de milhares de latas e testemunhos de fé no Glorioso.

Na rotunda, dezenas de trabalhadores limpavam o Marquês de Pombal e refaziam o roseiral devastado. O polícia João Neves esteve lá à paisana a festejar e confirma a suspeita: "Depois de tanta cerveja, aquilo parecia um urinol." Confirma-se assim a origem dos rios secos que amarelam a estátua e criaram um fundo lago na base!

Na carruagem do metro que passa por baixo daquela praça, Daniel Alves revia nos jornais o que vira na televisão e preparava-se para "chatear os colegas sportinguistas no trabalho". No entretanto, António Lamares queixava-se do atraso da entrega dos jornais nas bancas, situação que fez perder as primeiras vendas da manhã: "Nenhum jornal chegou a horas." Quanto ao Benfica, é assunto que pouco o preocupa, pois é simpatizante do Amora: "Não vi o jogo, só ouvi o barulho."

A banca fica no cais dos cacilheiros para o Barreiro, mas os que chegam do lado de lá passam a correr, como acontece com Fábio, que está com pressa de chegar ao trabalho no Minipreço. No domingo, pouco festejou, mas ontem já marcara festa rija com os amigos - só benfiquistas. Elogia David Luiz, o patrão da defesa, e o médio Javi García. E Cardozo? Nada a comentar, mesmo com dois golos...

Diga-se que raramente os jornais atraem tanta leitura. Sempre que existem diários expostos, há um ajuntamento de homens a olhá-los. Nuno não é do Benfica, mas como o seu Sporting estava a milhas da liderança não evita esquadrinhar as primeiras páginas. Garante que não lhe custou ver a taça ir para o outro lado da 2.ª Circular; que se o Porto acreditava que "ia papar os outros sem reforçar a equipa estava bem enganado" e que o Benfica "é perito em assustar adeptos. Aquele golo do Rio Ave pôs-lhes o credo na boca".

Na Rua Augusta, os sinais de clubite de quem acordou campeão são bastantes, mas quem leva a taça é Paulo Quintão. Empurra o carro do seu bebé de poucos meses, aquecido por um cachecol da saudosa época 2004/05 e garante que o Afonso "já está a ser iniciado". É para que não haja descaminhos nos herdeiros, coisa habitual sempre que existem outras cores a liderar o campeonato: "Quando nasci, era o Benfica que estava lá em cima. Não havia que enganar." Agora, espera que o clube se mantenha por lá ou que o próximo seja de Aveiro para baixo!

De férias em Portugal, Olga e Vítor Alfaiate foram impedidos de regressar à Suíça por causa do vulcão islandês. Esperavam ver o Benfica campeão no Porto, mas acabaram por não seguir viagem sem dar uso aos cachecóis. Um dos filhos é jogador do Sichas, da 3.ª liga suíça, e mantém a verve benfiquista desde os 9 anos, altura em que se negou a colocar o pé numa loja do Sporting com o irmão. "Se entrar aí, vomito", disse.

Ontem, o Benfica acordou campeão. Hoje, Jesus sai de cena e entra o Papa. Outro dos nossos três "F".

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