Acionem as sirenes!

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Produto interno bruto a cair notoriamente menos do que era esperado é certamente bom. Mas é coisa longínqua, para não dizer que é uma daquelas siglas numa língua estranha, o economês, que poucos sabem o que quer dizer exatamente. Não é assim de estranhar que não se tenham ouvido vozes a louvar-se nos resultados, mais rápidos e mais profundos, de tanto sacrifício imposto, tolerado e executado pela esmagadora maioria do povo português.

Já hoje, confrontados com a subida brutal, num ano, de 130 mil desempregados, soltam-se os gritos de indignação, clamando por medidas de contenção desta hemorragia de empregos, transmutada numa onda de marginalização e de destruição anímica do precioso capital humano do País. 116 mil licenciados só aprenderam coisas inúteis para uma vida profissional produtiva? O treino prolongado de uns 15 anos de escolaridade formal não tem serventia para nenhum projeto de criação de riqueza neste país?

Pior, ainda: dos 465 mil jovens entre os 15 e os 24 anos que estão no mercado de trabalho - isto é, que já não estão a estudar -, 208 mil ou estão desempregados, ou trabalham a tempo parcial contra a sua vontade, ou resvalaram para o limbo da situação de inativos disponíveis para trabalhar. São quase 45%. Aproximadamente, um em cada dois jovens centrifugados no mercado de trabalho! É o futuro coletivo que está, aqui e agora, a ser hipotecado, mil vezes pior do que a conta calada das PPP, que entregamos de herança aos nossos filhos e netos (conjuntamente com as infraestruturas e as instalações de saúde construídas...).

As sirenes de alarme de barcos e fábricas, por este país fora, deveriam soar como se um bombardeamento arrasador estivesse iminente. O efeito é o mesmo. A resposta, pronta e necessária, é que varia.

Contas que ninguém sabe fazer

O Parlamento está a dar início a um longo e quase certamente penoso inquérito às parcerias público-privadas (PPP), que se presume terem contribuído significativamente para os problemas que o Estado português enfrenta. A audição prevista de mais de 150 pessoas, de todas as empresas envolvidas, bem como de outras dezenas de especialistas e técnicos, faz prever que ocorra na Assembleia da República uma espécie de gigantesco processo judicial que não leve a conclusão alguma.

Para já, temos uma divergência inicial que diz tudo sobre as dificuldades que os deputados desta comissão de inquérito terão de enfrentar: para uns, o custo para o Estado destas PPP é de 26 mil milhões de euros. Para outros, é de 48 mil milhões... Com este ponto de partida, tão divergente, como é que se pode chegar a uma conclusão comum?

Temos, no entanto, uma conclusão a tirar: ninguém consegue, nesta altura, fazer contas sérias nesta matéria, e isto já diz muito sobre a forma irresponsável e desorganizada como estas parcerias foram criadas e geridas.

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