"Acesso universal" à Saúde deve garantir Qualidade

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Pode a prioridade à "doença aguda", seja em medidas e "planos de contingência" ou até na Lei do Orçamento de Estado, ser uma real solução para as necessidades dos utentes?

Recentemente, tivemos o exemplo da tentativa de "solução" rápida e mediática para dar resposta a utentes que não têm acesso a um especialista em Medicina Geral e Familiar.

Haverá "listas de 1900 utentes" atribuídas, em algumas regiões do país, a médicos não-especialistas, como decorre do art.º 206.º do Orçamento do Estado de 2022?

Com que critérios serão constituídas estas "listas" e como será planeada a prestação de cuidados, garantindo qualidade? Quais serão os recursos disponíveis para permitir a integração desses médicos?

Facilmente, se percebe a dificuldade em, ao longo do tempo, gerir cuidados com uma "lista" desta dimensão, quer seja, ou não, com médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar.

Importa explicar a complexidade. O médico de família presta cuidados desde o nascimento à morte. Proporciona cuidados preventivos, designadamente rastreios oncológicos e vacinação. Gere multimorbilidade, em todas as faixas etárias. Promove cuidados a todas as doenças na sua fase aguda e/ou crónica. Acompanha doentes em fim de vida e luto das famílias.

CitaçãocitacaoA prioridade assumida pelo governo para a contratação de médicos não-especialistas parece ser a resposta à "doença aguda". Será isto que o cidadão pretende e entende como "acesso universal" ao Serviço Nacional de Saúde?

Importa perceber a repercussão, a longo prazo, para os utentes, para as equipas de saúde dos diferentes níveis de cuidados (Centros de Saúde, Hospitais e comunidade) e para o Serviço Nacional de Saúde. E, todos os médicos, e outros profissionais de saúde, merecem a garantia de condições dignas de trabalho.

A prioridade assumida pelo governo para a contratação de médicos não-especialistas parece ser a resposta à "doença aguda". Será isto que o cidadão pretende e entende como "acesso universal" ao Serviço Nacional de Saúde?

Há que colocar o utente no centro do sistema.

Todos os utentes deverão ter acesso a cuidados ao longo da sua vida, acompanhados por médicos e equipas de saúde, motivadas e com competências para gerir a complexidade inerente, envolvendo todos os recursos da comunidade. Isso implica formação qualificada, conhecimento, experiência e liderança.

Esperamos exigência e excelência de cuidados de saúde a todos os cidadãos, independentemente do local onde residem e da sua condição sócio-cultural. As assimetrias podem e devem ser ultrapassadas.

Por um novo futuro para a Saúde. Mais e melhor.

Médica especialista em Medicina Geral e Familiar
A autora escreve de acordo a antiga ortografia

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