Acelerar a eletrificação das frotas é cortar metade das emissões nos transportes
A eletrificação das frotas empresariais foi o tema discutido no painel da manhã. Para o administrador da EDP, Carlos Moreira, as frotas corporativas serão decisivas. "O peso que têm nas emissões é marcante. Se os transportes contribuem com 25% para o total das emissões, as frotas empresariais são responsáveis por 50% destas emissões", disse este responsável da EDP. Carlos Moreira explicou que é importante eletrificar os veículos das empresas. A mudança será benéfica: "A opção da eletrificação já é um bom negócio", explicou o gestor. "O veículo elétrico é mais económico do que outro a combustão", ou seja, a transição "já não é só um imperativo ambiental, mas também um imperativo de negócio".
Num mercado em mudança rápida, os operadores consideram que as parcerias são fundamentais. A EDP tem uma parceria com a Leaseplan e apoia a locadora a ajudar os clientes a gerirem as suas frotas elétricas. No mesmo painel, o diretor-geral da Leaseplan, António Oliveira Martins, explicou que os "os veículos elétricos já representam 20% da frota" da sua empresa.
Outro dado revelador: "Na produção de 2023, essa percentagem já é de 50%." A aceleração está em curso. O gestor da Leaseplan apontou ainda o problema da falta de transparência no custo de carregamento, algo problemático para as empresas.
Sobre este ponto, Carlos Moreira adiantou que a EDP tem soluções, como a app EDP Charge, que permite fazer uma simulação do custo de carregamento, bem como ver o histórico dos carregamentos efetuados.
Nesta tríade da mobilidade elétrica outra parceria importante é com os concessionários. A EDP elegeu a Santogal, enquanto maior grupo português, que representa mais de 30 marcas. O seu diretor para a Mini e BMW, Mário Jácome, acredita que nos próximos 10 anos a mobilidade vai mudar mais do que nos últimos 100. O custo de utilização de um veículo elétrico em 4 anos teve uma redução de cerca de 30%.
Todos concordaram que é necessário um processo intenso de abate aos carros antigos com mais de 14 e 20 anos e são partidários da manutenção dos inventivos à compra de veículos elétricos, que chegou a ser questionada pelo Governo, mas que afinal, deverá continuar.
Este foi o mote para as discussões seguintes, onde se abordaram temas como o abate de carros envelhecidos, a indústria automóvel e o crescimento do setor elétrico. Nestes painéis, destaque para a intervenção de Jorge Delgado, secretário de Estado da Mobilidade Urbana, que explicou haver uma decisão do Governo de apoiar o abate, mas num modelo que continua em discussão.
Os carros com mais de 14 anos são responsáveis por 90 por cento das emissões na área dos transportes e o Executivo acredita que "o incentivo ao abate de carros é uma forma de ampliar as condições que permitam a renovação da frota envelhecida em Portugal", afirmou Jorge Delgado.
O governante reiterou o compromisso nas políticas sustentáveis e elencou medidas, de resto, anunciadas pelo ministro do Ambiente da Ação Climática, Duarte Cordeiro, na passada sexta-feira, no encerramento da conferência de Lisboa da Mobi Summit. Entre estas medidas, contam-se a revisão dos incentivos à compra de carros elétricos, no sentido que estes apoios sejam dados a quem realmente necessita. "No próximo ano, o incentivo continuará a existir, mas com nuances em relação ao que existe. O assunto não está fechado", disse Jorge Delgado.
Noutra intervenção, Hélder Barata Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal, ACAP, também se referiu à questão do fim de vida dos veículos.
"Após a pandemia, países como a Itália, França, Espanha, aproveitaram para estimular o mercado e criar programas de incentivo ao abate de veículos em fim de vida", explicou. Em Portugal, o Governo assinou no ano passado um acordo com parceiros sociais, no qual "ficou estabelecido um plano de abate de automóveis ligeiros de passageiros em fim de vida", o qual ainda não foi aplicado.
A reintrodução do programa de incentivos ao abate levaria a uma poupança energética de 3,2 milhões de litros de combustível por ano, redução de emissões de 10,8 mil toneladas de dióxido de carbono. Isso permitiria retirar de circulação cerca de 1,5 milhões de veículos com mais de 20 anos que circulam nas estradas portuguesas, com benefícios incalculáveis para a segurança rodoviária.
O setor automóvel em Portugal movimenta 33,7 mil milhões de euros e é o principal exportador (12,7%) do país. O setor emprega 151 mil trabalhadores nas suas 33 mil empresas. Em 2017 os elétricos representavam 1% das vendas em Portugal, mas este ano (entre janeiro e agosto) passaram os 16,4%.
Em 2035, os carros novos comercializados na União Europeia terão "emissões zero". O assunto foi discutido no painel A descarbonização e a renovação do parque automóvel.
Para o diretor-geral da Renault Portugal, Ricardo Lopes, é necessário um "plano suficientemente democrático" para renovar o parque automóvel, que passará pelo regresso do incentivo ao abate de viaturas antigas e por apoios à compra de carros elétricos.
Com os novos incentivos ao abate de veículos em fim de vida haverá outros desafios, como a reciclagem das viaturas. Rodolfo Florit, da SIVA, afirmou ser preciso "olhar para todo o processo de fabrico" e para os materiais que podem ou não ser reciclados e, posteriormente, reutilizados. "Temos de estar preparados", acrescentou. O processo "não será simples" e haverá sempre uma avaliação, por exemplo, nas baterias, que podem ou não ser reutilizadas.
No painel da Deloitte discutiram-se os novos desenvolvimentos em torno do conceito de Mobility as a Service, que se destinam a um novo tempo em que, mais do ter a posse de um veículo as pessoas procuram soluções de mobilidade práticas, rápidas, baratas e sustentáveis. É o mundo da interconectividade entre os vários meios de transporte facilitada pelas aplicações para smartphone.