Acalmia política e não tempestade

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Tive muita dificuldade, sinceramente, em compreender a manchete do jornal PÚBLICO, no dia seguinte às eleições: Marcelo sai reforçado em noite de tempestade política. Não consigo, de facto, perceber que tempestade houve nestas presidenciais. Vejamos: Marcelo ganhou folgadamente, como se previa, Ana Gomes ficou em segundo e André Ventura em terceiro, tal como era também expectável. E a afluência às urnas foi expressiva, nada de acordo com os cenários catastróficos que se fizeram. Onde estará a tempestade política? Não a vejo.

Fiquei ainda mais surpreendido, quando vi Marques Mendes, num ensaio no DN, falar em tempestade perfeita, retomando a ideia peregrina do PÚBLICO. Em boa verdade, há mais sinais de acalmia política na sociedade portuguesa do que de agitação. Marques Mendes refere também uma suposta ingorvenabilidade, quando a sondagem mais recente da Aximage, publicada no DN, o desmente, pois dá quase 40 por cento dos votos ao PS!

Disse, no entanto, uma coisa acertada: PSD com Chega é naufrágio anunciado. Talvez por isso, os ditos sociais-democratas afastaram o partido de André Ventura do acordo sobre as autárquicas com o CDS. E bem. A cumplicidade do PSD com o Chega só o prejudica eleitoralmente, além de ser contranatura.

Noto, na nossa direita, a tentativa de criar instabilidade no país, algumas vezes até parecendo trazer o famigerado diabo de Passos Coelho. Não chega com o Governo, mas com sectores da actual Oposição, o que não deixa de ser curioso.

A acalmia política que antevejo resulta, nomeadamente, do facto de Marcelo se assumir como o Presidente da estabilidade, devendo o relacionamento com o Governo continuar a ser excelente. Nada me diz que haverá mudanças neste domínio. Marcelo e Costa visitaram, juntos, o Hospital das Forças Armadas, logo a seguir às eleições.

A tentativa frequente, a que aludo, de fomentarem a agitação política na sociedade portuguesa, visando a queda do Governo, explica-se pelo facto de confundirem os desejos com a realidade, a que os ingleses chamam o wishful thinking. Quando assim é perde-se a isenção e, mais grave, a verdade.

Em Portugal, infelizmente, há muito quem goste de viver da imprensa. Esquecem-se, porém, em alguns casos, de um ditado norte-americano, que diz: se vives pela imprensa, morres pela imprensa! O que não invalida que Marcelo tenha feito, como se diz, o seu primeiro mandato na televisão e Marques Mendes, candidato a seu sucessor, procure trilhar o mesmo caminho.

Chamavam quarto poder ao poder mediático, mas hoje, nas sociedades modernas, talvez seja mesmo o primeiro. Capaz de fabricar Presidentes!

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