AC Milan em crise profunda à espera de ser salvo pelo dono da Louis Vuitton

Longe vai a década de 1960, quando destronou o Benfica do trono europeu, ou os anos dourados de Berlusconi, com o mágico trio holandês. O clube de Milão está numa grave crise financeira e desportiva e vive o pior início de época dos últimos 78 anos.
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O AC Milan é hoje uma caricatura daquela equipa que foi dominadora na Europa e se tornou um dos mais prestigiados clubes a nível mundial. O emblema italiano com mais títulos internacionais (18) está a viver o pior início de época dos últimos 78 anos, pois à 14.ª jornada da Série A ocupa o 11.º lugar com sete derrotas, algo que só tem paralelo na época 1941- 42, em plena II Guerra Mundial numa altura em que o fascismo imperava em Itália sob a liderança do ditador Benito Mussolini. O Milan vivia então à sombra dos três campeonatos italianos conquistados no início do século.

Além da crise desportiva, os rossoneri enfrentam graves problemas financeiros, mas na última semana os fanáticos adeptos do clube viram uma pequena luz no buraco negro onde estão mergulhados com a notícia de que o presidente da Louis Vuitton, o milionário francês Bernard Arnault, estará interessado em adquirir o clube e avançar para as contratações de Pep Guardiola para treinador e de Lionel Messi como a principal estrela.

O AC Milan está longe dos tempos de glória, que surgiram na década de 1960, sob o comando do mítico treinador Nereo Rocco, responsável pela conquista de duas Taças dos Campeões, a primeira das quais frente ao Benfica bicampeão europeu, em 1963, numa equipa que contava com estrelas como José Altafini, Cesare Maldini, Giani Rivera e Giovanni Trapattoni.

A glória europeia só foi reconquistada duas décadas depois, numa espécie de renascimento iniciado em 1986, após duas descidas de divisão, quando o empresário Silvio Berlusconi assumiu a presidência do AC Milan. Contratou então o treinador Arrigo Sacchi, que impôs um novo modelo de futebol, que começou por ser alicerçado num trio de estrelas holandesas: Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten.

Foi uma era dourada, continuada por Fabio Capello e Carlo Ancelotti, que durou 12 épocas, marcadas pela conquista de seis títulos de campeão italiano, três títulos europeus, duas Taças Intercontinentais e três Supertaças Europeias. Este sucesso desportivo alavancou a carreira política de Berlusconi, que acabou por chegar a primeiro-ministro. O Milan tornou-se um dos gigantes mundiais, com alguns dos melhores jogadores do mundo, como provam as Bolas de Ouro conquistadas por Van Basten (três), Gullit, George Weah, Shevchenko e Kaká, que se juntaram à de Rivera, em 1969.

O desinteresse de Berlusconi

No fim da época 2011-12, marcada pela desilusão de não ter revalidado o título numa luta palmo a palmo com a Juventus, o Milan começou a ser vítima de um progressivo desinteresse de Silvio Berlusconi, que foi perdendo algumas das suas referências, ao mesmo tempo que as contratações de grande estrelas quase desapareceram.

Silvio Berlusconi delegou a presidência à filha Barbara, que se incompatibilizou com Adriano Galliani, diretor desportivo e homem de confiança de longa data de Il Cavaliere, que por essa altura disse que não podia competir com os petrodólares, iniciando um processo de venda das ações do Milan ao chinês Li Yonghong, empresário que diziam ter demasiados pontos obscuros.

A venda concretizou-se em abril de 2017 por 740 milhões de euros, iniciando-se uma nova era no clube com a contratação de muitos jogadores de qualidade duvidosa, num investimento que rondou os 195 milhões de euros logo na primeira época. Bastou um ano para que o tribunal de Shenzhen decretasse a falência da empresa de Li Yonghong, por falta de pagamento de vários empréstimos. O Milan foi arrastado para a crise e o incumprimento do empresário chinês fez que o clube passasse para o fundo americano Elliott Management, um dos credores do então proprietário dos rossoneri.

Uma das primeiras medidas da nova administração foi a injeção de 50 milhões de euros para estabilizar as finanças do Milan, que apresentavam um saldo negativo de 145,9 milhões de euros, devido à diminuição das receitas, que levou ao incumprimento das regras do fair play financeiro da UEFA, que impediu a entrada na Liga Europa deste ano.

Nove técnicos em sete épocas

Os sinais da crise profunda por que o Milan passa estão bem visíveis nos nove treinadores que teve nas últimas sete temporadas. A última mudança foi a 8 de outubro, quando os diretores do futebol Paolo Maldini e Zvonimir Boban, antigas estrelas do clube, decidiram demitir Marco Giampaolo. Para o seu lugar foi contratado Stefano Pioli, um técnico que em tempos tinha jurado amor ao grande rival Inter, o que gerou uma enorme onda de contestação dos adeptos. É que, além de ser adepto do rival, Pioli tem um currículo modesto, sem qualquer troféu conquistado.

Esta decisão custou vários insultos a Maldini e a Boban, que depressa foram catalogados como os rostos da crise desportiva desta época e acusados de não terem um projeto para reerguer o clube, que não é campeão italiano desde 2011, sendo o último troféu conquistado uma supertaça em 2016.

Sem talento nas camadas jovens - a equipa de sub-23 foi despromovida à Série B -, o clube apostou nesta época na contratação de jovens, gastando de mais de cem milhões de euros com o médio costa-marfinense Franck Kessié (24 milhões de euros), o avançado português Rafael Leão (23), o defesa francês Theo Hernández (20), o médio argelino Bennacer (16), o defesa brasileiro Léo Duarte (dez) e o médio bósnio Krunic (oito). Todos eles promessas que ainda não se impuseram na equipa, talvez por isso se fale agora no regresso do veterano Zlatan Ibrahimovic (38 anos) já em janeiro.

Enquanto isso, o Milan vai na sexta época consecutiva sem disputar a Champions, numa altura em que esta prova é o sustento financeiro de tantas equipas europeias pelas elevadas verbas que permite encaixar desde logo com a entrada na fase de grupos. A notícia da vontade de Bernard Arnault adquirir o clube foi um sinal de esperança. Com uma fortuna avaliada em 72,2 mil milhões de euros, este empresário de 70 anos está disposto a fazer investimentos avultados para fazer renascer o gigante italiano. As contratações de Guardiola e Messi seriam um passo importante para o regresso aos tempos áureos. Só que não é certo que a Elliott Management esteja disponível para vender a sua posição no clube.

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