A “intuição” e a intenção de Lucílio Baptista

O que o árbitro de Setúbal fez ao omitir o empurrão de Pedro Silva foi a pena mais pesada que poderia ter aplicado ao sportinguista
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Lucílio Baptista errou. Teve coragem e foi à televisão assumir que viu um pénalti que não existiu, confessando ter apitado “por intuição”. Por outras palavras, na dúvida o juiz preferiu condenar um inocente a arriscar-se a absolver um culpado.
Todo o homem falha. Numa fracção de segundo e sob intensa pressão, a probabilidade de falhanço dispara. Até aqui Lucílio Baptista pode invocar a condição humana em autodefesa.
Mas o erro que ajudou a entregar a Taça da Liga ao Benfica tem outras dimensões. Bem mais graves. E mais difíceis de explicar, porque foram pensadas, reflectidas.
Lucílio Baptista confessou na televisão que não se apercebeu da gravidade do empurrão de Pedro Silva. Mesmo que as imagens mostrem que recuou uns metros depois da peitaça e lhe arregalou os olhos enquanto fugia, o juiz jura que não percebeu. E, por esta razão, não descreveu o acto irreflectido do jogador do Sporting no seu relatório.
Compreensão? Simpatia? Compensação ou cobardia? Nada disso. Pelo contrário. 
O que Lucílio Baptista fez ao omitir o empurrão de Pedro Silva, foi a pena mais pesada que poderia ter aplicado ao sportinguista. Não só abdicou da oportunidade de relativizar o caso, como o deixou à mercê de um processo disciplinar que a Comissão Disciplinar da Liga terá de instruir com base apenas nas imagens.     
Esta opção deliberada é o erro mais grave. Porque já não foi a quente ou sob pressão. E prova que, afinal, Lucílio Baptista nem sempre decide apenas “por intuição”. Às vezes, também o faz com intenção.

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