"A vitória no Dakar é o que me falta. É muito difícil mas é possível"

Em entrevista ao DN, a semana e meia do arranque do Dakar, Hélder Rodrigues recorda a estreia "sem preparação", elogia a mudança para a América do Sul e perspetiva, com ambição, a edição de 2017.
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Estamos à porta do Dakar 2017. Será a sua 11.ª participação consecutiva. O que é que o deixa mais orgulhoso: ser o português com mais vitórias em etapas até aqui (oito) ou ter sempre chegado ao fim (nove vezes no top 10), numa corrida tão imprevisível?

O mais importante é que, ao longo destes anos, consegui sempre bons resultados e terminar a corrida. Nunca tive um acidente no Dakar, nunca desisti por ter cometido algum erro. Acho que isso é super- positivo. Também é importante a motivação que ainda tenho, de fazer sempre mais e lutar pelo Dakar.

Destas dez participações, qual é a memória mais feliz que guarda?

São os pódios que consegui alcançar. Subir ao pódio no final de tantos dias, e de um ano de trabalho, é das sensações mais fortes. No meu segundo Dakar [2007], quando venci a [2.ª] etapa em Portugal, também foi muito marcante, por ser no meu país e ter todo aquele público a assistir. Mas a memória mais forte é a dos dois pódios [2011 e 2012].

Esses dois terceiros lugares foram conseguidos na América do Sul, após o rali mudar de continente, mas o Hélder estreou-se ainda em África, em 2006. Sente saudades ou prefere este novo Dakar?

Tenho algumas recordações de África mas, para mim, a América do Sul é mais forte: tem mais público, tem mais media, é tudo melhor para nós... O Dakar mudou para lá e mudou bem. Em termos de corrida é tudo mais forte lá.

De qualquer forma foi em África que começou logo como o melhor estreante de 2006, em 9.º lugar. Esse resultado foi uma surpresa?

Sim, porque a três meses do Dakar ainda não sabia se ia participar. Há muitos pilotos que vão correr pela primeira vez mas já fizeram um ano de trabalho, corrida, testes... Eu não me preparei: não tinha moto, equipa, nada. Foi tudo feito muito em cima. Foi a primeira vez no Dakar e também a primeira com roadbook, numa moto de rali, não teve nada que ver com a preparação de um atleta hoje em dia... Consegui-lo assim, sem preparação, foi importante.

Na altura, o que é que lhe causou mais estranheza ou para que é que não ia preparado?

Não estava preparado para tantos dias de corrida, tantos quilómetros e em África... nunca tinha feito navegação. Partíamos de manhã e não sabíamos o que é que ia acontecer.

Agora será provavelmente um piloto muito diferente do que era então. Foi o acidente de 2007 [no Rali de Patagónia, que o deixou em estado grave] o que mais o transformou?

Foi. Fez-me ser mais profissional. Sempre o fui mas aquele ano mudou um pouco. Tive de me focar muito mais na preparação física e em tudo.

Isso é fundamental, numa prova cheia de imprevistos e onde o mínimo descuido pode ser fatal. Que erros é que um principiante deve tentar evitar no Dakar?

O que digo a todos os novos pilotos, amadores ou profissionais, é "tenham juízo e cabeça, concentrem-se no dia-a-dia, pouco a pouco, com cautela". Terminar o Dakar é o mais importante, não é fazer o melhor resultado.

Na próxima edição vai competir com um capacete desenhado por um fã. Gostou do trabalho final?

É um projeto de que já tínhamos falado há alguns anos com a Red Bull [patrocinadora do piloto] e felizmente este ano concretizou-se. O [designer] Ricardo [Rodrigues] fez um grande desenho. Para mim é muito giro: o capacete vai ter também algumas coisas relativas a Portugal, ao Dakar, ao Hélder... ficou muito bonito.

Olhando para o percurso, o Dakar 2017 vai ser o mais duro da história - ou desde que começou a ser corrido na América do Sul -, como foi promovido?

Eu diria que pode ser o mais difícil de sempre... mas só mesmo estando no terreno e vendo.

A primeira semana será passada quase sempre acima dos 3000 metros. A altitude pode ser o principal adversário?

Pode ser um dos principais.

Como é que se preparou para isso?

Neste ano não fiz nada de especial, simplesmente treino e preparação física. Lá, a adaptação tem sido muito boa. Habitualmente não sofro com isso, assim não fiz um grande trabalho...

Focando-nos nos objetivos desportivos, a que metas aponta?

Já fiz dois pódios no Dakar. O objetivo é melhorar.

Melhorar, neste caso, só pode ser o 2.º ou o 1.º lugar. A vitória final no Dakar é a medalha que lhe falta em mais de 20 anos de carreira?

Sim. É o que me falta, tem razão. É um objetivo muito difícil, porque pode acontecer muita coisa, mas é possível.

Quem serão os principais rivais?

Os pilotos das equipas KTM e Honda são os mais fortes. Há muita competitividade.

A primeira semana de prova ajudará a separar o trigo do joio, até por causa dos efeitos da altitude?

Acho que só a partir do dia 9 ou 10 é que poderemos ter a noção de quem é que pode ganhar. Tudo o que acontecer no início pode não contar para o resultado final.

Um acidente ou uma avaria pode deixar de fora qualquer candidato. Ter uma grande concentração e frieza é mesmo fundamental?

Sim, para mim esse é o ponto-chave da corrida. Quando estamos em competição temos de pensar no objetivo, em melhorar, andar rápido e e concentrados na navegação. Só quando as coisas terminam e voltamos ao acampamento é que temos algum tempo para pensar na família, nos amigos e em tudo o resto.

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