A visita de Merkel ao campo de Dachau

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A visita da chanceler Angela Merkel ao campo de concentração de Dachau, perto de Munique, tem, de facto, um grande valor valor simbólico. Isto pese embora alguma controvérsia interna, em larga medida resultante do ambiente que se vive na Alemanha, que vai às urnas a 29 de setembro.

O simbolismo da visita da chanceler resulta do facto de Dachau assinalar a origem do sistema concentracionário nazi, o seu carácter bárbaro e desumano em absoluto. Criado em 1933, o ano da ascensão de Hitler ao poder, Dachau destinava-se sobretudo a dissidentes mas irá servir de modelo aos restantes campos criados pelo regime nazi pela Europa fora. Por ele passaram todo o tipo de pessoas, de opositores políticos a judeus alemães e de outras nacionalidades, a ciganos e homossexuais - todos os que o regime considerava inimigos ou seres "inferiores".

Como foi assinalado por personalidades insuspeitas, como o presidente do comité dos antigos presos do campo ou a presidente da comunidade judaica de Munique, a visita da chanceler Merkel é "histórica", porque assinala não só o respeito por aqueles que ali estiveram confinados como força os alemães a confrontarem-se com um momento terrível e, necessariamente, irrepetível da sua história, com a cumplicidade e a falta de coragerm moral daqueles que não ousaram enfrentar o nazismo, mas também com a resistência e altruísmo dos que ajudaram os perseguidos pelo regime de Hitler e nunca pactuaram com a sua lógica. O tema continua, naturalmente, a não ser fácil nem popular na Alemanha. Mas só enfrentando--o em toda a sua dimensão e consequências os alemães recuperarão, neste ponto, o direito à normalidade histórica. A visita de Merkel é mais um passo nesse sentido.

O direito de escolher

Fernando Pimenta e Emanuel Silva trouxeram a única medalha portuguesa dos Jogos Olímpicos de Londres. Foram acolhidos, no regresso a Portugal, como heróis. Mas Pimenta estará agora a ser desafiado para mudar de nacionalidade, havendo quem queira aproveitar a sua disputa com a Federação de Canoagem, que insiste em que compita em K-2, quando o atleta quer também o K-1, onde rema sozinho.

Depois de ter conquistado dois títulos individuais nas Universíadas realizadas este ano na Rússia, Pimenta não vai agora aos mundiais na Alemanha. Quem fica a perder é o atleta e a federação, mas sobretudo o desporto português. Cada lado troca argumentos, com Pimenta a dizer que em K-1 dará o melhor pelo País e os dirigentes da canoagem a reivindicarem o mérito do projeto coletivo que deu a medalha de prata no ano passado em Londres e tantos outros resultados de alto nível a vários atletas.

Merece aplauso aquilo que a Federação de Canoagem tem feito nos últimos anos com Mário Santos à frente. Mas é de bom senso procurar um acordo que valorize a vontade de Pimenta, afinal um raro medalhado olímpico. A escolha do atleta merece respeito. E antes ceder no K-1 que ver a sua escolha ser outra - a da mudança de país, algo que, esperemos, o nosso herói olímpico nunca faça.

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