A vingança do dragão-barbudo
Uma cobra pitão foi a primeira a chegar ao lar da família Ferreira. O gosto por animais de estimação exóticos não passou e foram comprando outras cobras e lagartos (dragões-barbudos). Nunca, até à passada quarta-feira, tinham recebido a visita da Guarda Nacional Republicana (GNR). Na origem da diligência terá estado a vingança de um outro dono de dragões-barbudos a quem esta família da Lourinhã não emprestou um dos seus exemplares para criação. Os animais acabaram por ser multados por... falta de documentos.
Mas vamos por partes. Foi com surpresa que Martim Ferreira, 29 anos, abriu a porta aos militares da GNR que lhe perguntaram se podiam ver as "cobras de quatro metros". Conta que, "embora os guardas não tivessem qualquer mandado", deixou-os entrar. "Ao verem as cobras de cerca de 70 centímetros até brincaram com a situação", conta a mulher, Maria João Ferreira, 25 anos. "Seria incapaz de ter uma pitão desse tamanho na minha casa a viver com os meus filhos", acrescenta.
A primeira cobra chegou em 2008. "Na altura, fiquei muito assustada e não concordei com a vinda do animal", recorda Maria João. "Mas agora, quando a GNR disse que iam ficar apreendidos, fiquei com muito medo que nos levassem os bichinhos", confessa. As duas pitãos, uma cobra-do-milho (guttata) e cinco dragões-barbudos - um casal e três crias - permanecem na casa dos Ferreira, que ficaram como "fiéis depositários". Os animais estão separados por espécie, dentro dos cinco terrários cuidadosamente expostos na sala.
A cobra-do-milho, com pouco mais de meio metro, branca de olhos vermelhos, faz as delícias do filho do casal. Com cinco anos, o pequeno não mostra qualquer medo e diverte-se a enrolar o réptil nos braços ou a segurar para a fotografia a fêmea do casal de dragões-barbudos.
Terá sido um destes animais a estar na origem da desavença com o dono das 38 cobras-do-milho - que também receberam a visita da Guarda no mesmo dia. "Ele é criador e vende répteis. Foi ele que me vendeu as pitãos, mas nunca me disse que tinha de registá-las no ICNB (Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade). Deu-me uma cópia do documento de cedência de propriedade que recebeu quando as adquiriu em Espanha, mas nunca entregou a licença em meu nome", revela Martim Ferreira, enquanto mostra o e-mail que recebeu a informá-lo da denúncia feita ao Núcleo de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR de Torres Vedras. Diz ter sido vítima de uma "vingança, por não ter emprestado o dragão-barbudo para criação" e aguarda agora a decisão do ICNB para legalizar as cobras.