"A vida está difícil"

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Esta é uma das frases que o povo da África lusófona diz muitas vezes nas ruas quando vem ao encontro dos portugueses para pedir ajuda. "A vida está difícil" em África onde a pobreza se agudizou com a pandemia e com a guerra. Nem mesmo a subida do preço do barril de petróleo abafou todas as outras dificuldades, entre as quais se destaca a crise inflacionista e escassez de algumas matérias-primas.

"A vida está difícil" é uma expressão que hoje se pode aplicar também à realidade que as famílias portuguesas vivem. Com as devidas distâncias geográficas e de estádio de desenvolvimento, muitas pessoas têm dificuldades em comprar comida todos os dias do mês. Os últimos dados de março revelam que quase todos os preços de alimentos continuaram a subir. Das oito categorias de alimentos utilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) para o cálculo da inflação, só numa houve uma descida dos preços, revelou ontem o INE. Esta tendência de pressão nos custos suportados pelos consumidores já faz com que os alimentos contribuam para 58% do total da taxa de inflação homóloga registada em Portugal.

Vários economistas acreditam que o pior já terá passado, uma vez que em março foi registada a quinta descida mensal consecutiva (situou-se nos 7,4%), mas, ainda assim, continua a ser difícil pagar as contas. Mais difícil ainda porque a carga fiscal subiu para 36,4% do PIB, segundo o INE, tratando-se do valor mais elevado desde 1995. Na prática, a carga fiscal aumentou 15% em termos nominais no ano passado. Somando os impostos e as contribuições para a Segurança Social, o país atingiu um novo máximo.

Por falar em fisco, Portugal é atualmente um dos países da União Europeia onde o IVA tem mais peso na receita. Os impostos indiretos aumentaram 12,2%. Só o peso do IVA subiu 18,1% e a relevância do imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis para o bolo dos impostos indiretos acelerou 26,3%. No último ano, o IVA representou 61,5% das receitas com impostos indiretos (58,4% em 2021). A receita do IVA totalizou 22,6 mil milhões de euros, mais 3,452 mil milhões de euros que no ano anterior. Tudo isso se deveu ao desempenho da economia em 2022, mas também ao "aumento expressivo do nível preços", aponta o INE.

Em suma, não só os portugueses têm menos poder de compra, como pagam dos mais elevados impostos, taxas e taxinhas. Gerir a carteira tornou-se um exercício digno de contorcionistas e, para ajudar ao exercício, o FMI veio deitar água na fervura do otimismo do governo e aponta agora para um crescimento que não irá além de 1% este ano, aquém da previsão do Executivo e do Banco de Portugal. Se assim for, será mais um ano perdido.

Diretora do Diário de Notícias

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